Aurelina Maria Garrido
Conde Andrade Rufino, nasceu em 03/12/1949, na freguesia da Chamusca.
Foi
uma criança alegre, que cresceu num meio familiar muito afectivo. Uma menina
responsável, trabalhadora, comunicativa e sempre disponível para cuidar e
ajudar.
Aluna
“média”, frequentou o ensino primário sem dificuldades e concluiu o liceu aos
15 anos. Idade em que teve que optar por um curso que lhe garantisse um futuro
profissional. Sem quaisquer dúvidas escolheu o Magistério Primário, porque a
sua grande vocação era ser professora e ensinar.
Com
apenas 17 anos de idade começou a dar aulas, dando início a uma carreira que se
prolongou por 35 anos. Ensinou várias gerações de crianças, jovens e adultos.
Centenas de alunos que aprenderam com ela a preparar-se para a vida e com
muitos dos quais mantém relações de amizade e proximidade afectiva.
Mulher
social e culturalmente activa, colaborou com os Bombeiros Voluntários da
Chamusca, dos quais o seu marido era Comandante, participou e foi coautora de
programas na Rádio Bonfim, fez parte da direcção do Jornal da Chamusca onde
era, simultaneamente, redactora e jornalista.
Pessoa
de fortes convicções, muito interessada e empenhada na vida do seu concelho,
viria a abraçar a política autárquica. Vinte e três anos depois, quer como
vereadora, quer como Presidente da Junta de Freguesia da Chamusca, cargo que
exerceu durante três mandatos, não é possível ignorar a sua intervenção, tantas
são as marcas que permanecem.
Como me referiu não pretender candidatar-se a mais nenhum acto eleitoral, e com a isenção que sempre caracterizou este blogue, entendo ser este o momento de a enaltecer como um exemplo de dedicação e trabalho e uma
referência do concelho da Chamusca.
Portanto,
como seu aluno, amigo e conterrâneo, é com muita honra que partilho com o mundo
a dignificante vida desta Mulher.
&&&&&
Como é que decorreram os primeiros
anos da sua infância?
As primeiras
recordações que tenho da minha infância remontam aos meus 5 anos. Sou filha
única e os meus pais eram pessoas com alguns bens, fruto de muito trabalho, mas
nunca senti que fosse uma criança superprotegida. Em casa era educada e prevenida
para os perigos que poderia encontrar, nomeadamente atravessar a EN 118, para
ir brincar com as minhas amigas do Bairro Paio de Pele. Mas tinha uma vida
livre, com certa autonomia, e brincar no Largo e nos quintais com os meninos e
meninas da vizinhança era “o pão nosso de cada dia”. O pátio da nossa casa estava
sempre cheio de crianças e na altura das cheias do rio Tejo era uma alegria
andarmos de jangada na Rua da Formiga, mais propriamente na Travessa da Barca.
Sempre fui uma miúda "arrapazada" que gostava muito de montar em pêlo as éguas que pertenciam aos meus
pais, bem como ir para a adega que tínhamos no quintal esmagar as uvas e provar
o mosto, guiar a mula atrelada à carroça ou capear os bezerros pequeninos.
Aos 5 anos de idade com um amigo do tio João Conde junto à Barragem de Castelo do Bode.
Com 7 anos de idade, o apelo do barco e do Tejo sempre tão próximos.
O dia a dia de qualquer criança é
orientado e condicionado pela vida dos progenitores. Como é que se desenrolava
a vida dos seus pais?
De uma forma
perfeitamente normal. Eram pessoas do povo simples e afáveis. Eram pequenos
agricultores que trabalhavam na agricultura e na pecuária Possuíam uma
propriedade com foro, na qual moravam, onde eu nasci, cresci, casei, tive os filhos
e onde resido e espero morrer. Tinham uma vacaria, nesta propriedade, onde
criavam 13 vacas à manjedoura, que ordenhavam todos os dias a partir das 4 horas
da manhã. Esse leite era distribuído pelas “leiteiras” e, às vezes, pela minha
mãe, depois de ser analisado pela Dona Branca, num espaço da Câmara Municipal que
ficava junto à escola dos rapazes, no Largo do Jardim da Botica. Era com esse
leite que a minha mãe fazia o queijo e a manteiga.
Os meus pais também
tinham ovelhas, uma carroça, uma mula e 3 éguas brancas. Para ajudar os meus
pais trabalharam connosco o António Bexiga, o “Pegancho” e o Manuel José Neves “Cavaco”.
Estes são os que me lembro, pois eram muito meus amigos. Os meus pais possuíam
ainda duas propriedades no campo, nas quais trabalhavam de sol a sol, sobretudo o
meu pai, uma vez que a minha mãe para além dos afazeres que já referi, ainda
vendia no mercado da Chamusca os produtos agrícolas, tratava da lida da casa,
fazia as refeições, cuidava de mim, da minha madrinha Aurelina, que estava
entrevada, e do meu avô António Brás já com pouca mobilidade. Para além disso, fazia-me
os vestidos e os casacos de malha. Naquele tempo para as mulheres o dia tinha,
pelo menos, 48 horas. Lembro-me de, já rapariga, ter uma grande admiração pela
minha mãe.
O seu pai António Conde Brás
A sua mãe Rosária Fernandes Garrido Brás
Com o ex-empregado do seu pai e amigo desde a sua infância, Manuel José Neves "Cavaco".
Eram pessoas atenciosas e afectivas
consigo?
Sim, muito. Para além
da forma como lidavam comigo todos os dias, há momentos inesquecíveis que
reflectem bem o quanto se empenhavam para me ajuda a crescer, acarinhar e fazer
feliz, como os que vou referir.
Apesar de uma vida de
tanto trabalho e tão ocupada a minha mãe praticamente todos os meses me fazia o
“batizado das bonecas”. Como no meu quintal havia muitos pombos e borrachos ela cozinhava uma magnífica canja, fazendo também um pão-de-ló
e umas taças de arroz doce para a festa ficar completa. Para mim, e para as outras
meninas, esses eram dias de muita brincadeira e de alegria, onde nós tentávamos
mesmo imitar a celebração de um batizado. Alguém se vestia de padre, de sacristão,
outras faziam de madrinha ou padrinho e as restantes de convidados.
Quando tinha 6 anos e
já andava na escola, algumas vezes durante a noite acordava e via-me sozinha em
casa. Como sabia que os meus pais estavam na vacaria levava o livro da 1.ª
classe e sentava-me dentro da manjedoura e assim ficava quentinha. Então o meu
pai, como eu já conhecia as letras, apesar da labuta do seu trabalho, ensinava-me
a juntá-las e a formar palavras, tornando assim mais fácil a minha aprendizagem
escolar.
Aos 12 anos com a sua mãe. Mais do que uma imagem, um sentimento profundo de ternura.
Os seus pais, uma imagem de pessoas humildes, dedicadas e trabalhadoras.
Como é que decorreu
essa sua integração e desenvolvimento como aluna na Escola Primária?
Decorreu sem muitas
dificuldades. Aprendi mais facilmente a contar e a fazer contas do que a ler.
Fui uma aluna média. Na 1.ª classe frequentei a Escola do Bairro Azul, depois
da 2.ª à 4.ª e admissão ao liceu frequentei a Escola Conde Ferreira, que
funcionava no edifício da actual Junta de Freguesia de Chamusca, tendo como
professora a D. Maria José, esposa do professor Tomás. Dois dos quatro professores
que durante dezenas de anos ensinaram e marcaram várias gerações de alunos na
Vila da Chamusca.
Nesta fase aprendi e
amadureci muito também com várias circunstâncias da vida.
Na 1.ª classe aos 7 anos de idade, na Escola do Bairro Azul.
De que forma é que isso sucedeu?
Isso deveu-se ao gosto
de aprender e, também, à minha vontade de ajudar, mesmo sendo uma criança. O
meu avô dizia: “o trabalho de menino é pouco, mas quem não o aproveita é louco”.
Uma das primeiras lições aprendia-a
numa noite em que o meu pai nos disse que ia haver uma cheia e que era preciso
salvar alguns produtos agrícolas, por isso tínhamos que ir para o campo apanhar
nabos, logo cedo. Eu nem sequer sabia como se fazia. Mas o meu pai pôs-me à
vontade dizendo-me que era simples. Que os nabos que tivessem as cabeças
grossas arrancavam-se e os outros ficavam na terra. Quando se deu o
levantamento da cheia o meu pai encontrou um grande número de nabos soltos
sobre a terra e contou-nos que não sabia a razão de tal ter sucedido. Então
disse-lhe que isso se devia a mim, porque ele me tinha dito para arrancar os de
cabeça grossa e eu assim fizera. Todos os outros que tinha arrancado voltara a espetá-los
na terra, daí ficarem soltos. Foi um episódio caricato mas ele compreendeu que
eu era uma criança, que me mostrara disponível para ajudar e tentara fazer o
melhor.
Por outro lado, como
todos os jovens, gostava de ter algumas coisas que os pais não compravam. Então
combinei com o meu pai fazer a vindima, para ganhar algum dinheiro, e ele
pagava-me exatamente o mesmo que às mulheres que contratava. Com esse dinheiro
saía com a minha mãe e comprava algumas roupas e sapatos de que gostava Os meus
pais não se importavam com o dinheiro que me tinham pago, pois voltava a casa.
Era um bom negócio e as duas partes ficavam contentes.
Como também fui sempre
uma rapariga empenhada e atenta à vida e ao meio que me rodeava, ajudei a minha
mãe a cuidar da minha madrinha e do meu avô. Tanto um como o outro me ensinaram
muito. Apreciava a sabedoria das pessoas que tinham saber da experiência feita
de alegrias e de dores.
O seu avô António Brás e a sua madrinha Aurelina, que era madrasta do seu pai e que gostava dele e ele dela como mãe e filho.
O seu avô António Brás e a sua madrinha Aurelina, que era madrasta do seu pai e que gostava dele e ele dela como mãe e filho.
Com a morte dos dois e também dos meus avós maternos, “Manel” Garrido e Ana Fernandes Garrido e da minha avó paterna Emília Conde, quando
ainda era criança, esse sofrimento da perda fez-me amadurecer mais rapidamente.
O avô materno Manuel Garrido.
A avó materna Ana Fernandes Garrido.
A minha avó Emília Conde
foi a parteira da Chamusca durante décadas. Fazia o parto e ia a casa das parturientes
para dar banho aos bebés, até lhes cair o que restava do cordão umbilical. Com
ela também aprendi a ter mais sensibilidade para a afetividade e para a maternidade.O avô materno Manuel Garrido.
A sua avó Emília Conde
Entretanto concluiu o
ensino primário e prosseguiu os seus estudos!?
Sim, esse era o objectivo. Eu pretendia continuar e os meus pais também o queriam. Por isso fiz
o exame de admissão ao liceu, tendo sido aprovada, e passei a frequentá-lo. Dessa
forma conclui o 1.º e 2.º ano de liceu (actuais 5.º e 6.º) no colégio que
existia na Rua da Formiga, o 3.º e 4.º (actuais 7.º e 8.º) na Escola Conde Ferreira
e o 5.º ano (actual 9.º ) no Colégio da Palmeira em frente da Igreja da Senhora
das Dores.
Neste período não posso
deixar de salientar o acompanhamento e partilha do meu pai neste percurso. Ele
era um homem muito inteligente. Concluiu a 4.ª classe com distinção, obtendo 20
valores. O professor Barreto Mendes foi pedir ao meu avô que o deixasse ir
estudar, mas ele era filho único, fazia falta para trabalhar, e não prosseguiu.
Mas como gostava de saber sempre mais, estudou nos meus livros e nos da
Biblioteca Itinerante da Gulbenkian e sabia História de Portugal e Universal
como poucos.
Depois deste ciclo escolar
concluído chegou a hora de optar por um curso.
Aos 13 anos no Colégio da Conde Ferreira.
Aos 14 anos no Colégio da Conde Ferreira, com os professores e os colegas de turma.
Aos 15 anos na festa de finalistas com alguns colegas.
Aos 14 anos no Colégio da Conde Ferreira, com os professores e os colegas de turma.
Aos 15 anos na festa de finalistas com alguns colegas.
Foi difícil fazer essa opção?
Não. Optei pelo que
sentia ser a minha vocação. Que certamente começou a despontar em mim quando
tinha apenas 5 anos e me lembro de estar no meu quintal sentada num banquito
entre os varais da carroça, que estava cheia de meninas, com uns papéis e uma
vardasca na mão a fazer de professora delas, quando eu ainda nem sequer sabia
ler. Pouco depois entraram os veterinários que iam vacinar as vacas e
perguntaram a que é que estávamos a brincar e eu disse: “às professoras”. “E
sabes ler? Lê o que tens na mão”. Resposta pronta: “isso agora é que está pior.”
Alguns anos depois
ocorreu outra situação, essa sim muito mais marcante para mim. Quando estava na
3.ª classe da Escola Primária veio para a minha sala uma menina, filha de um
engenheiro civil que estava a acompanhar as obras de construção das casas do
Bairro 1.º de Maio. A aluna tinha vindo do Colégio Rainha Dona Leonor, em
Lisboa, e estava um bocado atrasada na matéria relativamente a nós. A
professora Maria José decidiu que, depois do fim da aula, e enquanto a “Menina”
Aurora (contínua) fazia a limpeza da Escola, todos os dias uma aluna ficava
responsável por ensinar a recém-chegada para que ela pudesse acompanhar-nos.
Até que um dia a professora disse que passava ser somente eu a ensiná-la. E
assim me entreguei à tarefa de a ensinar com toda a responsabilidade e
dedicação. Levei esta função tão a sério que, depois da Escola fechar, comecei
a trazer a menina para a minha casa, onde continuava com o meu papel de
professora.
Ser professora era o seu único
objectivo profissional?
Sem
dúvida! Por isso fui inscrever-me para fazer as provas de admissão ao
Magistério Primário, em Leiria. As provas eram muito exigentes, mas acabei por
obter boas notas e entrar no curso não tendo ainda a idade mínima exigida (16
anos). Mas isto só foi possível depois de ter pedido autorização ao Ministério
da Educação para o poder frequentar e o Senhor Ministro ter autorizado. O curso
tinha a duração de dois anos e durante esse período tive que ficar a viver em
Leiria num Lar das Freiras Dominicanas que era pago, bem assim como a
frequência do Magistério. Foi uma época de muita exigência económica, por isso
o meu pai trabalhava de sol a sol para eu poder estudar e andava calçado com
umas botas rotas.
Fotografia dos alunos e professores da Escola do Magistério Primário de Leiria, do curso de 1967-1969.
Os alunos do Magistério Primário de Leiria com José Hermano Saraiva, Ministro da Educação.
No Magistério acompanhada pelos colegas do seu grupo de trabalho.
Os alunos do Magistério Primário de Leiria com José Hermano Saraiva, Ministro da Educação.
No Magistério acompanhada pelos colegas do seu grupo de trabalho.
Terminado o curso qual foi o seu
rumo profissional?
Terminei o curso em
24/05/1969 mas, como não tinha ainda 18 anos para poder dar aulas, tive que
voltar a pedir uma nova autorização ao Ministério da Educação, desta vez para
poder exercer a profissão de professora e o Senhor Ministro autorizou. Foi no
tempo em que havia falta de professores.
A minha primeira
colocação, no ano lectivo de 1969/70, foi em Albergaria de Almoster, que fica
no triângulo entre Santarém/Cartaxo/Rio Maior. Era a única professora da Escola
e a minha primeira turma tinha cerca de 40 alunos, das quatro classes. Entre
eles havia 5 alunos repetentes que tinham idades entre os 13 e os 15 anos.
Como não havia transporte
para vir com frequência à Chamusca, fiquei a morar em Albergaria. Apesar da
escola ter uma casa para a professora, esta ficava muito isolada e tive medo de
lá residir, por isso comecei a procurar um quarto para alugar. Isso mostrou-se
muito complicado uma vez que as pessoas achavam que não tinham condições para
albergar uma professora. Noutros casos, como perceberam que eu namorava não queriam
alugar. Finalmente consegui alojamento em casa do senhor Manuel Horta e da sua
esposa Amélia Horta, que tinha sido professora lá durante quase toda a vida.
Além disso eram pessoas com boa compreensão da vida e disse-lhes que o meu
namorado, Manuel Rufino, ia daí a um mês para o Ultramar, mais propriamente para
Cabinda.
Na despedida dos militares que partiam para Angola, no navio Vera Cruz. Nele ia o seu namorado Manuel Rufino. Na foto estão familiares próximos e a Aurelina, de cabelo comprido.
Na despedida dos militares que partiam para Angola, no navio Vera Cruz. Nele ia o seu namorado Manuel Rufino. Na foto estão familiares próximos e a Aurelina, de cabelo comprido.
Só vinha uma vez por
mês a casa, até que os meus alunos mais velhos me indicaram um caminho que
atravessava uma vinha enorme e que desembocava próximo da paragem de autocarro, o
que me permitiu percorrer a distância a pé de uma forma menos difícil e
demorada. Como estes meus alunos iam levar-me e buscar-me ao autocarro, comecei a
vir a casa mais vezes.
A sua primeira turma, aos 17 anos de idade, em Albergaria de Almoster.
Esta foi a sua primeira
experiência como professora, mas qual foi o percurso ao longo da sua
carreira?
Só permaneci em
Albergaria de Almoster um ano lectivo. Voltei lá posteriormente algumas vezes
para visitar o casal em casa dos quais vivi e rever alguns alunos. Mas o
curioso é que passados tantos anos, o ano passado uma das alunas dessa turma,
de nome Cristina, que nunca se esqueceu de mim, entrou em contacto comigo
através do facebook. Conversámos e vamos tentar juntar-nos com os outros, para
matar saudades.
No ano lectivo seguinte
vim para a Chamusca onde dei aulas durante 3 anos. No ano lectivo de 1973/74 estive
apenas 15 dias colocada no Semideiro, porque fui convidada para ir dar aulas à 5.ª
classe na Carregueira. No ano seguinte fui colocada no Pinheiro Grande, onde
estive apenas 1 ano, tendo retornado à Carregueira para leccionar a uma turma da
6.ª classe. Permaneci os restantes 28 anos da minha carreira na Carregueira, no Ensino Básico Mediatizado,
EBM, vulgarmente conhecido como Telescola.
A Telescola da
Carregueira marcou-me bastante como professora.
No primeiro ano em que deu aulas na Chamusca.
Com a turma a que deu aulas durante o seu segundo ano na Chamusca.
Porque razão considera
a Telescola da Carregueira marcante no seu trajecto como professora?
A Telescola era um
belíssimo ensino porque as crianças mesmo à distância, as que não se podiam
deslocar, tinham a possibilidade de ter bons professores e serem motivadas
através de pequenos filmes temáticos de cada disciplina. Mais tarde, com o
aparecimento do vídeo e da televisão a cores a aprendizagem foi ainda melhor.
Na Carregueira tivemos
sempre a preocupação de melhorar o ensino e irmo-nos adaptando às necessidades
dos nossos alunos e das suas famílias. E, por isso, éramos considerados uma
referência a nível da Educação Regional. O nosso Orientador Pedagógico, o
Senhor Professor Virgílio, sempre apoiou as nossas ideias e visão de melhoria
e, em Vila Nova de Gaia, sede da Teleescola transmitia o que estávamos a
alterar e sempre foi aceite. Éramos considerados uma referência a nível da
Educação deste tipo de ensino. Conseguimo-lo, ocupando bem os tempos livres dos alunos e dando-lhes
condições para se sentirem bem integrados, uma vez que recebíamos meninos não
só da Carregueira, mas também do Pinheiro Grande, do Arripiado e da Chamusca.
Conseguimos isso com muito trabalho e empenho e através da celebração de vários
protocolos:
Com a EB 2, 3 da
Chamusca para termos aulas de inglês, que eram dadas pela Dr.ª Fátima Silva.
Com a Sociedade
Recreativa Victória para a prática de Educação Física, para que os alunos, no Inverno,
pudessem praticar ginástica na sede daquela Associação e com a Junta de
Freguesia da Carregueira para que, no verão, os alunos usassem o ringue
desportivo.
Com o Centro de Dia da
Carregueira, porque não fornecíamos refeições e havia alunos que viviam longe e
não podiam deslocar-se a casa para almoçar e assim puderam passar a comer na
escola as refeições fornecidas pelo Centro de Dia.
Para que isto fosse
possível, contámos sempre com o apoio da Câmara Municipal que melhorou os
espaços e os adaptou às novas exigências de funcionamento, para além de
efectuar o pagamento às Entidades com quem tínhamos protocolos.
Foram 35 anos a dar aulas. Lembra-se
de todos os seus alunos e do relacionamento que manteve com eles?
Lembro-me perfeitamente
de todos os meus alunos, embora tenham sido muitos os que passaram pelas minhas
mãos. Tive sempre um bom relacionamento com eles e as suas famílias. Foram
sempre crianças muito afectivas. Senti-me sempre muito próxima delas e elas de
mim. Aceitavam bem as repreensões e os que não as aceitavam tão bem hoje,
quando me encontram, dizem-me que se arrependem de não me terem ouvido e estudado
mais. A nossa relação foi sempre muito boa e continua a ser. Quando nos vemos
nunca deixamos de nos cumprimentar e, muitas vezes, entram em contacto comigo
através das redes sociais, enviando-me fotografias das famílias que
constituíram.
O principal sentimento
que retenho é que ensinei mas também aprendi muito com os meus alunos. Aprendi
com eles que não basta chegar à sala de aula e ensinar a matéria. É preciso
conhecer o aluno, a família, as suas alegrias e tristezas, o que pode fazer,
receber e dar.
Por exemplo, um aluno
que tive nunca levava os livros para casa. Deixava-os em cima da salamandra da
sala e pegava-lhes, no outro dia, quando chegava à escola. Quando lhe perguntei
porque o fazia respondeu-me que de manhã, antes das aulas, ia guardar as
ovelhas e à tarde, depois das aulas, tinha que ajudar na horta. Depois disto,
antes de exigir tentava perceber as razões.
Sei que contribui para
a educação/formação das crianças do nosso Concelho, não por obrigação mas por
devoção, porque ser professora era aquilo que gostava de fazer, entregando-me a
essa tarefa de alma e coração.
Uma carta sentida de reconhecimento e agradecimento.
Esta sua carreira
profissional foi complementada quase desde o seu início pela sua nova vida
familiar, quando se casou com o seu namorado de longos anos!?
De facto assim foi. Era
professora na Carregueira quando, aos 23 anos, em 08/12/1973, me casei com o
Manuel Rufino, meu marido há 43 anos. Mas para isso se tornar uma realidade
ainda tivemos que contornar um problema. É que para nos podermos casar eu tive
que pedir autorização ao Ministério da Educação, porque as professoras não tinham
um grande ordenado e só podiam casar depois de se provar que o noivo ganhava
pelo menos o mesmo que elas. A falta de condições económicas da família,
segundo o entendimento da altura, punha em causa a estabilidade profissional, o
equilíbrio emocional e a tranquilidade da professora na sala de aulas e até o
próprio estatuto social que se pretendia que as professoras tivessem.
Felizmente que esta
situação acabou por ser ultrapassada, mas um novo problema surgiu com o
nascimento do nosso filho Rui. Ele nasceu em 25/09/1974 e a 28/09 fui à
Direcção Escolar de Santarém, levando o meu filho ao colo, com um atestado
passado pelo Senhor Dr. Loja, médico na Chamusca, porque o bebé não queria
pegar na chucha, nem no biberão. Só mamava. Fui pedir para ficar um mês em casa
(não havia licença de maternidade) para poder cuidar dele, tentando que
bebesse pelo biberão. A verdade é que não aceitaram o meu pedido, tendo dito
que não era possível porque havia uma turma de quase 30 crianças que não tinham
professora e precisavam de mim.
Foto do dia do seu casamento com Manuel Rufino.
Como é que resolveu o problema?
Tirava o leite à bomba
e deixava-o num biberão para a minha mãe lho dar à colher. E quando o meu
marido podia ir ao Pinheiro Grande, levava-mo à Escola para eu lhe dar mama.
Foram momentos muito
difíceis, que demonstram o quão bom foi passar a haver licença de maternidade.
Depois com a minha
filha Rute, que nasceu em 08/07/1976, tudo foi diferente e foi-me foi concedida
uma licença de maternidade de 2 meses.
Na Escola do Pinheiro Grande, 6 dias após o seu filho ter nascido.
Na Telescola da Carregueira, grávida da Ruth.
Na Telescola da Carregueira, grávida da Ruth.
Com os seus filhos, Rui e Ruth.
De que forma é que se
reflectiu na sua vida o facto de, poucos anos após o casamento, o seu marido
ter assumido o cargo de Comandante dos Bombeiros Voluntários da Chamusca?
Quando, em 1977, o meu marido passou a
ocupar o cargo de Comandante, após 2 anos como membro da Direcção, isso
trouxe-me também uma maior participação em termos comunitários. Como não havia
ninguém no Quartel durante a noite e por vezes também durante o dia, porque
tinham saído em serviço, as chamadas estavam reencaminhadas para a nossa casa.
Quando o meu marido não estava era eu que atendia e saía, a qualquer hora, para
ir chamar o Francisco Laranjinha ou o Manuel João Nalha, que eram os bombeiros
que moravam mais perto de mim, para eles irem fazer qualquer serviço urgente.
Quando não conseguia contactar com estes procurava outros que pudessem acudir
às situações. Antes de mim também a D. Elvira Brogueira tinha feito de
“socorrista”, quando o seu marido o senhor Júlio era o Comandante. Hoje estas
situações já não se colocam, porque há sempre pessoas no Quartel e existem
outros meios de comunicação.
Por outro lado, como o
meu marido estava a tempo inteiro nos Bombeiros, sobretudo na altura dos fogos,
é natural que tenha havido para mim uma sobrecarga no cuidar e educar os nossos
filhos e na gestão da vida familiar, o que foi compreensível.
Elvira Brogueira, poetisa, mulher do Comandante Júlio Conceição, dedicada amiga e colaboradora da Corporação, baptizando uma nova ambulância dos Bombeiros Voluntários da Chamusca.
Com o seu marido Manuel Rufino, Manuel José Nalha, Eurico Monteiro, André Saramago e João Saramago, em Tomar.
Na comemoração dos 66 anos do seu marido Manuel Rufino, simultâneamente a festa da sua despedida como comandante dos Bombeiros Voluntários da Chamusca.
Essa sua disposição
para participar e colaborar levou-a a envolver-se noutras actividades?
Nunca gostei de estar
parada. Foi por essa razão que me envolvi, ao longo dos anos, em outras actividades,
nomeadamente na implementação e concretização dum desejo do Reverendo Padre
Diogo que disse, publicamente, que gostaria que na Chamusca se fizesse uma Procissão à Nossa Senhora das
Dores. A Procissão fez-se durante vários anos com a colaboração das
costureiras, dos escoteiros, das crianças, dos jovens, dos homens e das
mulheres que compunham os “Quadros” de cada uma das Sete Dores.
Um dos cortejos da procissão.
Também estive envolvida em actividades na rádio. Juntamente com o Horácio Ruivo, a Isabel Ruivo, o João Saramago, o José Brás e o António Fialho tivemos durante um ano um programa na Rádio Bonfim com o título “Palavras Vivas”, onde fazíamos entrevistas a figuras públicas locais e nacionais.
Também estive envolvida em actividades na rádio. Juntamente com o Horácio Ruivo, a Isabel Ruivo, o João Saramago, o José Brás e o António Fialho tivemos durante um ano um programa na Rádio Bonfim com o título “Palavras Vivas”, onde fazíamos entrevistas a figuras públicas locais e nacionais.
No ano seguinte com
esta mesma equipa criámos o programa “Caleidoscópio”, cada semana o programa
era assegurado por dois de nós e alternadamente por outros dois nas semanas
seguintes. Este programa debruçava-se sobre literatura.
Algum tempo depois,
como dava aulas a adultos no Semideiro e igualmente na Chamusca, no Edifício
Custódio Mira, fui convidada pelo professor Martinho Branco, Coordenador do
Ensino de Adultos na Chamusca, para participar no programa “Palavras e Música”,
tendo recebido dois diplomas de mérito e agradecimento pela minha colaboração.
Estive também ligada à
comunicação social, pertencendo durante vários anos à Direcção do Jornal da
Chamusca, onde conjuntamente com Elisete Carrinho, José Brás, Horácio Ruivo,
Áppio Cláudio entre outros (peço desculpa aos que não mencionei), escrevíamos
para o jornal de forma voluntária e gratuita, fazendo entrevistas e recolhas de
notícias e actividades das freguesias.
O seu cartão do Serviço de Imprensa, como repórter do Jornal da Chamusca.
Nessa Direcção estava o
Gonçalo Cabaço, que também ali trabalhava voluntariamente, que foi o meu
grande incentivador para entrar na política activa. Ele dizia-me; “gostas de
política, de actividade social, de participar, porque é que não entras para a
política seja porque partido for!?”.
Fui igualmente muito
influenciada politicamente pelo facto de que quando fui estudar o 10º, 11º e
12º, em horário nocturno, para a Escola EB, 2, 3/S da Chamusca, ter tido uma
disciplina de iniciação à política e a minha turma ser muito heterogénea, ter muita
gente de várias vertentes políticas e as aulas serem debates acesos, onde
discutíamos amplamente as questões políticas.
E foi por esses motivos
que sentiu que deveria envolver-se na política autárquica?
Sempre tive as minhas
convicções e sentia que tinha algum perfil para a política. Já antes tinha sido
convidada por algumas forças políticas, mas não aceitei porque tinha os filhos pequenos.
Mas foram sobretudo estes
incentivos que levaram à decisão de me envolver politicamente na vida do meu
concelho, depois do aval de quase toda a família. Só o meu pai não gostou da
ideia.
Quando fui convidada
para ser candidata como cabeça de lista pelo PSD à presidência da Câmara
Municipal da Chamusca em 1993, não hesitei e concorri tendo com o objectivo
principal a renovação urgente do nosso concelho.
Perdeu essas eleições à Presidência
da Câmara, bem assim como as de 1997 e 2013. Essas situações marcaram-na
negativamente?
Não. De forma alguma. Perdi por 3 vezes eleições à
Presidência da Câmara Municipal da Chamusca mas não estou nada arrependida de
ter concorrido. Se tivesse que voltar atrás faria tudo da mesma maneira.
Durante a campanha paras as Eleições Autárquicas 2013.
Com Luís Marques Mendes na apresentação da sua candidatura às Eleições Autárquicas 2013.
Mesmo tendo perdido foi
muito importante a minha intervenção nos assuntos do concelho e aprendi muito
relativamente à vida autárquica e fiz bons amigos de outras áreas políticas
como o Inácio Salgado, Emídio Cegonho, José Melão, Joaquim Emídio, António José
Moreira, Artur Jacinto e outros. Não referi o Presidente Sérgio Carrinho porque
somos amigos desde os 10 anos de idade.
No Edifício da Junta de Freguesia com Emídio Cegonho, Inácio Salgado, Victor Hugo, entre outros.
Durante uma exposição da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias), ladeada por Sérgio Carrinho e Artur Jacinto.
No Edifício da Junta de Freguesia com Emídio Cegonho, Inácio Salgado, Victor Hugo, entre outros.
Durante uma exposição da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias), ladeada por Sérgio Carrinho e Artur Jacinto.
As diferenças de
opinião não obstavam a que fossemos amigos. Os assuntos eram analisados e debatidos
pelos sete vereadores, no primeiro mandato, ou pelos cinco no segundo mandato,
com verdadeira lealdade institucional, Dou-lhe um exemplo: a Ascensão na
Chamusca tinha só a componente pagã. Quando propus à Câmara que se juntasse a
componente religiosa com a Benção do Homem, dos Animais e dos Bens da Terra,
não foi muito bem aceite por alguns Vereadores, mas a maioria achou sim e,
desde essa altura, até hoje, de várias maneiras e estilos, continuamos a ter
esta componente indispensável à Ascensão.
A fazer uma leitura na missa da Benção do Homem, dos Animais e dos Bens da Terra, com o padre Diogo no altar improvisado.
Na visita a um dos pavilhões na inauguração dos festejos de uma Semana da Ascensão.
Na visita a um dos pavilhões na inauguração dos festejos de uma Semana da Ascensão.
A Apanha da Espiga, com
todo o seu simbolismo, a tourada, os fados, os bailes, os piqueniques e
muitas outras acções formam um “ramalhete” que nos enche de orgulho e alegria e
nas quais eu participo porque sempre gostei de me divertir.
Durante a apanha da espiga na lezíria da Chamusca.
Durante a apanha da espiga na lezíria da Chamusca.
E apesar de nunca ter
tido um pelouro atribuído, devido sobretudo ao facto de estar a trabalhar como professora,
durante o período de 1993 a 2001, como vereadora, trabalhei sempre em grupos de
trabalho com partidos de todas as áreas políticas. Mantive assim uma forte
ligação com a Câmara e também com a população. Já tinha, nessa altura, um
gabinete na Autarquia onde atendia as pessoas relativamente a situações de
acção social e educação. Penso que foi esta minha disponibilidade para tentar
resolver os problemas das pessoas e o reconhecimento desse meu empenho por
parte delas que levou a que as minhas candidaturas à Presidência da Junta de
Freguesia fossem bem aceites. Venci as eleições de 2001, 2005 e 2009. A minha
primeira eleição pôs fim a 25 anos de vitórias da CDU, o que mostra bem que os
votos vieram de todos os quadrantes políticos e de todas as pessoas que reconheceram
o meu trabalho.
O ex-Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho.
São algumas das Figuras políticas nacionais que também estiveram presentes no seu relacionamento político.
O actual Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa também reconheceu o seu empenho, manifestado neste cartão.
Cavaco Silva durante uma visita ao Quartel dos Bombeiros Voluntários da Chamusca, em 1995(levando em mãos o projecto do IC3 para a Chamusca). Na fotografia está também outro político Chamusquense, José Frederico Salter Cid, Secretário de Estado da Segurança Social.
São algumas das Figuras políticas nacionais que também estiveram presentes no seu relacionamento político.
Que motivações a
levaram a candidatar-se à Presidência da Junta de Freguesia de Chamusca?
A principal motivação
adveio de sentir, no final do segundo mandato como vereadora, que era
necessária na Junta de Freguesia da Chamusca, por ser o Órgão mais próximo das
pessoas que me abordavam e falavam comigo na rua ou que vinham a minha casa,
como ainda acontece, para exporem assuntos da freguesia que lhes diziam
respeito ou que eram sua preocupação.
E foi com este
sentimento de urgente necessidade de servir e estar mais próxima, que concorri
às eleições realizadas em 2001 e fui eleita.
O que é que gostaria de
realçar, que tenha concretizado durante o seu primeiro mandato?
Deste primeiro mandato
gostaria de realçar que contei com a colaboração de uma pessoa muito competente
e empenhada na resolução dos problemas. A tesoureira da Junta e minha amiga, a
Senhora Dona Nani, sempre pronta a ajudar a resolver problemas e muito, muito
envolvida na vida autárquica.
Maria Manuel Carvalho Figueira Salter Cid (Dona Nani), numa cerimónia de entrega de medalhas, atribuindo-a ao Bombeiro João Godinho, acompanhada pela poetisa Maria Manuel Cid e pelo empresário César Castelão.
Realço ainda que ao
assumir o cargo verifiquei que a Junta necessitava de uma carrinha. Era a única
freguesia do Concelho, à exceção do Pinheiro Grande, que não possuía um meio de transporte próprio,
pelo que nos candidatámos à Central de Compras do Estado. Embora a minha
proposta não tenha sido votada favoravelmente pela Assembleia de Freguesia,
voltei a insistir e a levar àquele Órgão a mesma proposta que viria a ser
aprovada.
Verificámos também que
todo o trabalho no OTL de verão com as crianças e depois com os seniores, era
uma situação que tinha que ter outro enquadramento e havia necessidade de ter
outro tratamento, pelo que comecámos a trabalhar nesse sentido.
Como não há só coisas
boas, a vida é feita dumas e doutras, realço a enorme tragédia que o nosso
Concelho sofreu com os fogos de 2003. A dois de Agosto de 2003, uma catástrofe
natural, uma trovoada seca, provocou a morte, a destruição e a desolação. Não
havia possibilidade dos Bombeiros socorrerem tudo e todos. Então surgiu o Grupo
de Jovens que, no Bairro 1.º de Maio, foram autênticos heróis. Por toda a
parte, vizinhos, amigos e desconhecidos entreajudavam-se na ânsia de salvar
vidas e bens.
Enquanto Presidente da
Junta e em coordenação com o senhor Presidente da Câmara, ajudei a receber, a
encaminhar, a acarinhar e alentar os que, por motivos de precaução, estavam a
ser transportados de outras freguesias para o salão dos Bombeiros. Eram quase
todas pessoas de idade que, se necessário, teriam que ter cama para dormir e
refeições para tomar, o que foi tratado com a Santa Casa da Misericórdia que,
prontamente, disponibilizou o Edifício de S. Francisco.
Em Santo Antoninho
tínhamos casas a arder e os moradores tiveram que ser retirados. A Capela do Senhor
do Bonfim e a Capela do Cemitério estavam ameaçadas e cercadas pelo fogo,
Arderam os tetos e os telhados das duas, tendo no entanto sido possível retirar
os bens mais preciosos de uma e de outra que foram, depois, entregues aos
responsáveis de cada uma.
Surgiu uma enorme onda
de solidariedade. Todos queriam ajudar trazendo roupas e muitos outros bens.
Não havia espaço para guardar, separar e entregar tudo o que nos chegava.
Pediu-se ao senhor Dr. João Duque que nos cedesse um armazém, no que é hoje a
Horta das Freiras, e foi-nos emprestado.
As pessoas desalojadas,
quando as novas casas ficaram prontas, foram viver para o Leme e outras
regressaram às suas casas recuperadas.
Na Chamusca, com o Ministro da Administração Interna, António Figueiredo Lopes e a Secretária de Estado da Segurança Social, Teresa Caeiro, durante a entrega das novas casas aos desalojados.
E dos mandatos
seguintes de 2005 e 2009, o que é que lhe merece realce?
Realço a candidatura da
Junta ao Banco Alimentar. Com a sua aprovação passámos a ir mensalmente a
Santarém buscar os alimentos para as famílias que inscrevendo-se e reunindo as
condições para os receber, iam levantá-los à Junta.
No início do Banco
Alimentar na Chamusca, havia um mecenas do concelho que oferecia mensalmente,
em dinheiro, o equivalente a 600 litros de leite. Eu própria doava os valores
que tinha a receber como Presidente da Junta ao Banco Alimentar.
Realço igualmente a
criação da Loja Solidária para apoiar as famílias de todo o Concelho, que por
indicação das assistentes sociais da Câmara e de outras Instituições
verificavam as debilidades económicas e encaminhavam as pessoas para nós. A primeira
localização desta Loja situou-se em frente à Branca de Neve, num espaço cedido
pelo Dr. Luís Santos e as suas irmãs.
E, sobretudo, apraz-me realçar a criação
da JuntAnima.
Sentimos que era necessário que os nossos seniores da freguesia
fossem mais acompanhados e que saíssem de casa convivendo entre si e com outras
pessoas, nomeadamente com os mais novos, pelo que era necessário um espaço que
nós não tínhamos. Procurámos encontrar esse espaço, adquiri-lo, transformá-lo e
torná-lo mais adequado às funções que se pretendia desenvolver, um Junta
animada. Para conseguirmos concretizar esse sonho candidatámo-nos ao Programa
da Charneca Ribatejana e fomos contemplados. A Câmara apoiou-nos com os
materiais de alvenaria e vendemos dois terrenos que nos pertenciam, mas que não
tinham qualquer utilização. Com estes passos evitámos contrair um empréstimo
que teríamos que pagar durante 25 anos, tendo pago as prestações em 5 anos e
sem juros, uma vez que os proprietários percebendo a importância do espaço para
a população sénior acederam a esta venda. Comprámos mobiliário para as salas,
quadro interativo e computadores. Não foi fácil, pois tínhamos que pagar
primeiro e só recebíamos o dinheiro depois, pelo que só com a compreensão e
apoio da Câmara Municipal, conseguimos atingir o nosso objetivo.
Inserida no Grupo Musical da JuntAnima, bem afinados por José Pinhal e João Sá.
Inserida no Grupo Musical da JuntAnima, bem afinados por José Pinhal e João Sá.
Vídeo
Integrando
o Grupo Musical da JuntAnima interpretando o tema "Chamusca Linda Vila
Portuguesa". Música e letra de José Pinhal.
Com o voluntariado do
José Pinhal, João Sá, Maria Emília Vacas , Carlos Petisca, professor Valdemar,
Vera Vinagre, Mónica Galinha, Filipa Ferreira e Bruno Guilherme, entre outros,
tornou-se possível não só a convivência entre os utilizadores, como desenvolver
várias actividades naquele espaço, como a criação de um grupo musical, para
além de se terem proporcionado outras dinâmicas, com as saídas para o exterior,
com passeios, visitas a museus, idas à televisão, a ginástica no salão dos
Bombeiros Voluntários, a frequência da piscina uma vez por semana, os almoços
de convívio e a convivência com os Centros de Dia do Concelho.
Durante a confecção de um almoço na JuntAnima.
Durante um actividade em Oliveira de Azemeis.
No decurso da acção "Envelhecimento Activo", no CNEMA, em Santarém.
Durante a confecção de um almoço na JuntAnima.
Durante um actividade em Oliveira de Azemeis.
No decurso da acção "Envelhecimento Activo", no CNEMA, em Santarém.
Fazendo um breve
balanço da sua actividade política, sente alguma mágoa pelas derrotas e que
tenha tido mais percas do que ganhos?
A política para mim foi
sempre uma actividade voluntária. Nunca ganhei qualquer dinheiro com ela.
Considero que recebi sempre mais do que dei. Porque trabalhar para o bem comum
é a melhor recompensa que podemos ter. E foi esta razão que me levou a
candidatar-me para a Câmara Municipal e para a Junta de Freguesia. Fazer uma política
séria e dedicada ao serviço das pessoas é a melhor maneira da chegar às
populações e servi-las.
Não tenho nenhuma razão
de mágoa para com os habitantes do nosso Concelho, por não me terem elegido
para a Presidência da Câmara. Como as eleições a que concorri à Junta de
Freguesia da Chamusca, e as eleições de 2013 à Câmara Municipal o demonstraram,
a população da Vila da Chamusca conhece-me e ao meu trabalho, pelo que votou
maioritariamente em mim. Claro que não olharam aos partidos, pelo que isto só
foi possível recebendo votos de todas as áreas políticas.
Com Henrique André e Nazaré Ramos, no almoço da sua despedida com Presidente da Junta. Exibindo a salva de prata que lhe foi oferecida.
Com Henrique André e Nazaré Ramos, no almoço da sua despedida com Presidente da Junta. Exibindo a salva de prata que lhe foi oferecida.
Pensa voltar a candidatar-se nas
próximas eleições autárquicas?
Embora
eu nunca diga nunca, neste momento a minha perspectiva é a de não voltar a candidatar-me.
Vai reservar agora o
seu tempo para a vida familiar e afectiva?
Como já referi, no início desta entrevista dediquei algum tempo da minha infância a cuidar do
meu avô paterno e da minha madrinha e recebi alguns ensinamentos e sensibilidade da
minha avó Emília Conde que foi parteira na Chamusca durante décadas. Talvez por
isso, certamente não por genética, fui sempre uma pessoa de afetos. Abraçava e
beijava toda a gente, como continuo a fazer. Pela vida fora a minha família, as
minhas colegas e amigas e os seus filhos e filhas mereceram toda a minha
atenção e afetos e passei a ter algumas filhas e netos de “coração”. Porque como tive sempre uma
grande tristeza de ser filha única, alarguei assim a família incluindo nela todos os
que podia abraçar.
No final desta
entrevista, que mensagem gostaria de deixar para as pessoas do nosso Concelho e
também para todos os que nos visitam e leem em todos os Continentes?
Para as
pessoas do meu Concelho digo que, pelo muito que amamos a nossa Terra e o nosso
Concelho, temos obrigação de lutar por ele, por nós, pelos nossos filhos e
netos, contribuindo de forma construtiva com a nossa voz, razão e inteligência,
pois temos de acreditar em nós, nas nossas capacidades e ter esperança no
presente e no futuro.
Para os que
nos visitam e leem em todos os Continentes, digo-lhes que visitem a Minha
Terra, não só a Chamusca, mas todo o Concelho.
Encontrarão
gente hospitaleira, boa gastronomia, igrejas e capelas lindas, belas paisagens
de lindos montes e vales, com o Rio Tejo a seus pés, “intimismo” na Charneca e
alegria folgazã na Lezíria.
A todos
digo:
Bem hajam!
Cá os
esperamos.
Um agradecimento especial a João José Bento pela sua infatigável
recolha e pesquisa fotográfica. Meu companheiro neste gesto sentido de respeito
pela nossa Terra e pelas nossas Gentes, através deste blogue. Nesta partilha voluntária da vida
daqueles que contribuíram para a construção de um Concelho mais Digno.
Todos os elogios que se possam fazer ao casal Aurelina e Rufino são merecidíssimos. Mais, bem os podíamos estender aos pais de ambos. Fui, em recuados tempos, próximo de ambos e tenho por ambos estima.
ResponderEliminar