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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

FILHOS DO TEJO - MARIA VICÊNCIA GRILO

FILHOS DO TEJO (segunda e última entrevista)



Maria Vicência Grilo, nasceu em 10/12/1930, no Patacão de Cima, em Alpiarça, tendo vindo viver para a Chamusca com 10 anos de idade.

(Parabéns! Celebra hoje 83 anos, de uma vida que lhe desejo longa.)

(Chamusca, sábado 23 de Novembro do ano de 2013)

O Sol era uma alegria cobrindo de luz as hortas e os pomares da Chamusca.
O dia estava morno e a passarada aquecia a voz afinando a orquestra da tarde com gorjeios.
Ali, à distância de uma braçada das águas do Tejo, ia dar um mergulho profundo na vida de Maria Vicência Grilo, atravessando a correnteza do tempo.
Quando a vi, na avaliação de um primeiro olhar, tive a sensação que era mais nova. Os seus olhos vivos e os seus braços desembaraçados e ágeis pareciam tê-la libertado das malhas dos anos, como um simples bater de barbatanas.
Sentada numa pequena cadeira, consertava redes de pesca com o carinho e a ternura de quem afaga os sentimentos.
Cumprimentámo-nos e ao encetarmos a conversa surpreendi-me com a sua lucidez e o leito escorreito da sua memória. Aos 82 anos ainda acompanha as remadas do tempo, como quem, tranquilamente, manobra um barco na correnteza do Tejo.
Uma menina que roeu a côdea da infância, alimentada por uma existência de mãe e de mulher, pois aos 6 anos já cuidava dos seus irmãos e debulhava as suas pequenitas mãos na lida dos afazeres domésticos.
Que aos 7 anos começou a estender as redes no rio da subsistência, para aos 15 anos, definitivamente, lançar a alma ao Tejo pescando cardumes de peixes, de sentimentos e de afectos.
Casou aos 21 anos com Inácio Fernandes, seu primo e avieiro da Barreira da Bica, e juntos se amaram e enamoraram pelo Tejo, mesmo remando arduamente contra a corrente da vida.
Viveram 4 anos no barco, sua casa e única mobília, onde com o seu instinto e dádiva de mãe, ela enfrentou o profundo perigo do rio e a escuridão traiçoeira da noite, dormindo com o filho amarrado por uma corda à cintura.
Teve outro filho com que partilhou perigos, mas também o mesmo espírito fortalecido de carinho e amor. Carregava os seus filhos ao colo quando se deslocava a pé para ir vender o peixe e ergueu-os bem alto na ternura dos seus braços, quando foi preciso educá-los e mostrar-lhes o longo e difícil caminho do futuro.
Quando o peixe deixou de encher as redes, encheu-se de coragem e desbravou o seu sustento na árdua e dura terra dos campos da Chamusca, da Golegã e de Alpiarça.
Mulher, Mãe, Guerreira da Paz e da Esperança, construiu as redes da vida com a malha apertada da valentia, da sensibilidade e do Amor.
Continua a pescar, porque lhe corre o Tejo no sangue. E apesar da sua vida sofrida, as suas palavras são alegres e a sua mensagem é feliz.
Digo-lhe que a admiro, mas ela não dá importância e diz-me que apenas cumpriu a vida.
Vê-me garatujar no papel as sombras das suas últimas palavras e cicia-me, com uma voz encolhida e triste; «só foi pena tanto sacrifício e não ter podido aprender a ler e a escrever.»
Comovo-me. É que sem se dar conta, ela acaba de me ler e de escrever a emocionante história da sua vida.

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Vídeo de um lance de pesca realizado no leito do Tejo, na Chamusca, junto às instalações da extinta fábrica "Spalil" (dia 07/12/2013).



Agradecimentos a Fernando Chora, meu amigo, por ter disponibilizado o seu tempo e o seu barco para permitir a gravação deste vídeo e também a Joaquim José Grilo Fernandes que tornou possível este encontro com o Tejo.

O que é que sabe sobre os seus antepassados e a vinda deles da Praia da Vieira para O Ribatejo?

       O que sei, por ouvir contar aos mais velhos, é que os pescadores da Vieira quando vieram para o Ribatejo o primeiro lugar onde se instalaram foi na Chamusca. Aqui é que começaram a construir os seus barcos, para depois se estenderem ao longo do Tejo, como aconteceu no caso dos meus pais que se fixaram inicialmente no Patacão de Cima, onde nasci, e de depois no Patacão de Baixo, em Alpiarça.

Que recordações guarda dos primeiros anos da sua vida?

          Lembro-me do tempo em que todos vivíamos no barco. Eu, os meus pais e os meus irmãos. E depois de termos ido viver para terra numa barraca de palha. Só que um dia em que a minha mãe estava a fazer o almoço, a corda que estava atada ao arco da caldeira e amarrada a um barrote pegou fogo e num instante incendiou a nossa barraca. Conseguimos fugir sem nenhuma queimadura, mas foi muito triste termos ficado sem casa e sido obrigados a ir viver novamente para o barco.
Só passado algum tempo é que o meu pai fez uma casita melhor: uma barraca de madeira.


Seu pai, Manuel Grilo, durante o serviço militar.

Como era a sua vida de criança?

Era praticamente uma vida de mulher e de mãe. Aos 6 anos, como os meus irmãos Jaime e Celestino já tinham nascido e por ser a mais velha, quando os meus pais iam para a pesca e nos deixavam aos três sozinhos, era eu quem tinha a obrigação de fazer de mãe dos mais pequenos.
Dava-lhes o café e vestia-os. Ao almoço comíamos o que a minha mãe tinha preparado no dia anterior. Lavava-lhes a roupa no Tejo e tinha que tomar conta deles com muita atenção, para que não fossem para a água e se afogassem.
Mas tinha também a obrigação e o trabalho de cozer os feijões e ir para o campo apanhar saramagos, uma erva que se comia muito na altura, para que quando a minha mãe chegasse pudesse fazer a comida para o jantar, que muitas vezes nem chegávamos a comer, porque os meus pais aportavam a altas horas da noite quando eu e os meus  irmãos já estávamos  a dormir.

Foram sempre assim os seus dias de criança, fazendo tarefas de mulher e de mãe?

Havia alturas em que tinha menos obrigações. Quando estava um tempo melhor, na Primavera e no Verão, e já com o meu irmão Manuel nascido, os meus pais deixavam-nos no areal da praia, dentro de uma pequena choupana que ali construíram, e iam para a pesca por perto, com a gente mais ou menos debaixo de olho.
Quando eles iam pescar para mais longe e por lá tinham que ficar por um ou mais dias, levavam-nos consigo. Depois, à noite, arranjavam um lugar dentro da maracha do Tejo onde punham um toldo para nos proteger do frio ou da chuva e ali nos deixavam a dormir.
Outras vezes, em dias de bom tempo, íamos todos para a pesca com os meus pais. Foi assim que aos 7 anos comecei a estender as redes da "varina".

Foi ainda criança que veio viver para a Chamusca?

A minha família veio para a Chamusca tinha eu 10 anos. O meu pai construiu uma choupana no Porto do Carvão onde ficámos a viver e ali continuei a tomar conta dos meus irmãos até aos 12 anos, quando me deu uma forte dor na perna. Fiquei um ano no hospital e durante mais dois a tentar recuperar em casa, na barraca que entretanto o meu pai construíra.


Aos 13 anos de idade, com o seu irmão Manuel Grilo.

Aos 7 anos já ajudava a lançar as redes ao rio, mas quando é que iniciou verdadeiramente a sua vida de pescadora?

            Foi aos 15 anos que me comecei a dedicar por inteiro à pesca e a pescar noite e dia. Este era o futuro natural dos filhos dos avieiros. Quando já tinham corpo e força, mesmo sendo mulheres, eram mais uns braços para ajudar na faina e no sustento da casa. Por isso continuei a pescar com os meus pais e os meus irmãos até ao dia do meu casamento.

Quando é que se casou e quais foram as mudanças na sua vida?

      Casei-me aos 21 anos com o Inácio Fernandes, que era meu primo e tinha a mesma idade. Também ele era avieiro e vivia na Barreira da Bica. Casámos na Chamusca e fizemos a boda no Patacão, em Alpiarça. O meu marido, como era costume, trouxe de dote o barco, que foi a nossa casa e a mobília durante os 4 anos em que vivemos nele.
Os dois batíamos o Tejo desde Salvaterra de Magos a Abrantes. Vendendo o peixe para revenda em Salvaterra e fazendo a venda também em Torres Novas, Entroncamento, Abrantes e Chamusca.



Seu marido, Inácio Fernandes, no mercado de Torres Novas

Aquela vida era muito ingrata. Trabalhávamos muito e sofríamos bastante. Muitas vezes queria fazer o comer e, mesmo tapados com o toldo, a água caía por todos os lados. O dinheiro que apurávamos também era muito pouco.
Ao fim de nove meses de casados nasceu o meu filho Jaime na barraca dos meus pais, porque não podia nascer no barco onde a parteira não ia fazer o parto.
Fiquei de resguardo um mês em casa dos meus pais, mas depois levei o Jaime para viver no barco.



Imagem de duas bateiras. Uma delas com o pequeno toldo que era usado para proteger do frio e da chuva.

Como é que se consegue criar um filho dentro de um barco?
        
     Sendo o barco a nossa casa, tínhamos que nos amanhar como podíamos. No princípio, nas emparadeiras, no meio do barco, punha um estrado de madeira que tapava com areia e em cima dela acendia o lume e fazia a comida. Depois comprei um fogareiro a petróleo onde comecei a cozinhar e a aquecer a água numa cafeteira, para dar banho ao meu filho dentro de uma bacia, protegida pelo toldo. No Verão não era preciso todo este trabalho, porque ele tomava banho na água do Tejo.
        Quanto à roupa, era lavada no Tejo com sabão e cloreto e passada com um ferro a carvão, sem carvão, aquecido com as brasas de salgueiros queimados. Passava-a em cima do traste, que é a tábua do meio do barco.
        Éramos pessoas limpas e com responsabilidade e os nossos filhos sempre foram bem tratados e andaram asseados.

Mas não havia o perigo da criança cair à água, sobretudo à noite?
        
        Havia o perigo, mas a nossa vida era aquela. Por isso me obriguei a ficar sempre acordada para tomar conta da criança à noite, enquanto o meu marido dormia. Até que um dia em que estava muito cansada lhe pedi que fosse ele a olhar pelo nosso filho, para eu poder dormir. Adormeci confiante que ele tomasse conta do pequeno, mas quando acordei durante a noite o nosso filho encontrava-se sentado no meio do barco. Foi uma grande sorte não ter caído ao rio. Como esta situação se repetiu mais uma vez, tive que passar a dormir com o meu filho amarrado à cintura com uma corda pequena, para não acontecer uma desgraça com ele. Assim passámos a ter mais sossego.
Apesar de todo este cuidado não evitámos que o nosso filho Jaime, quando tinha dois anos, e à luz do dia, tivesse caído ao Tejo. Naquele desespero o meu marido largou o barco, atirou-se à água e conseguiu-o salvar. Foi uma aflição e um sofrimento ver o meu filho às portas da morte. Mas a nossa vida teve que seguir, sempre com o coração nas mãos, pois não nos restava mais nada do que continuar a pescar para sobrevivermos.
Só quando construímos a nossa barraca no Porto do Carvão é que começámos a ficar mais tranquilos com o nosso filho.

Depois tiveram outro filho. A situação dele foi diferente?

        Ao fim de 6 anos e meio nasceu-me o outro filho, o Joaquim José. Muitas das coisas que se passaram com o Jaime voltaram a repetir-se com ele, mas como nessa altura já tínhamos a nossa barraca não passávamos tanto tempo no Tejo, à noite. Mas a vida dele também não foi fácil, basta dizer que ao fim de 8 dias de ter nascido já estava a dormir com a gente, no barco, no Porto do Pinheiro Grande.
        E como não tinha com quem deixá-los, muitas vezes eles tinham que me acompanhar para ir fazer as minhas vendas. Ia a pé para a Carregueira e para o Entroncamento vender peixe e a maior parte do caminho levava-os ao colo. Quando voltava do Entroncamento muitas vezes já não tinha força e apanhava a camioneta na Golegã.

Depois veio o tempo em que só a pesca já não chegava e foi preciso fazer também vida em terra!?
       
           Depois de muito labutarmos chegou uma altura em que o Tejo já não dava e eu e o meu marido tivemos que nos voltar para a agricultura. Tinha 30 anos quando me vi obrigada a fazer searas de tomate no campo da Golegã e da Chamusca e mais tarde no de Alpiarça, para podermos viver e pagar à Câmara os 20 escudos de renda do terreno onde estava a nossa barraca. Trabalhávamos muito e para poder poupar, ao jantar, por vezes só bebíamos café e comíamos uma fatia de pão.



Uma fotografia dessa época difícil. Nesta foto é a primeira mulher, à direita, com o xaile. O homem da foto é o seu pai. O menino de mãos nos bolsos é o seu filho Joaquim José.

Foi devido a essas dificuldades que quis dar outra vida aos seus filhos?

Foi por essa razão e também porque nem eu nem o meu marido fomos para a escola. Não sabíamos uma letra e não quisemos que se passasse o mesmo com os nossos filhos, por isso decidimos dar-lhes estudos. Numa certa altura andaram os dois a estudar em Torres Novas e só para pagar os transportes era um sacrifício. Mas valeu a pena tanto esforço, porque os meus filhos conseguiram ter alguns estudos, fazer a sua vida e arranjar bons empregos.
Felizmente consegui que eles estudassem, porque a maior pena que tenho na vida é a de não saber ler nem escrever. É certo que me consegui governar, mas faltou-me a escola. Quando os meus pais colocaram os meus irmãos Jaime e Celestino a aprender na escola do Manuel Barroso, ainda me disseram que me iam compensar e deixar-me também aprender, mas isso, infelizmente, nunca veio a acontecer.

Estamos aqui à conversa e não larga as redes. Com quem é que aprendeu a fazê-las e que mais nos pode dizer sobre elas?


(Respostas no vídeo)



Que sentimento tem pelo Tejo?

            Só de ver o rio sinto uma grande alegria. Tenho muito amor ao Tejo. Nele nasci e me criei e sempre que é preciso vou lá com o meu filho Joaquim José, que está a tentar continuar esta tradição da família. Tenho orgulho que ele e outros sobrinhos meus o façam, pois assim não se acaba este ofício que começou com os meus avós.




Com o seu filho Joaquim José no conserto das redes.



               Com o seu filho Joaquim José na pesca.


Com a sua irmã Justina, que também já foi pescadora, e com o sobrinho Fernando Chora que tenta dar continuada a tradição da família.



    O neto André Fernandes, depois de uma pescaria, exibindo algumas lampreias. 
Um jovem pescador de palavras, com um livro de poesia já publicado.

Por que é que ainda pesca e até quando o vai fazer?

Pesco porque o Tejo, o peixe e a pesca estão-me no sangue. Vou pescar até poder andar, nem que seja com muletas. Já não pesco para vender, mas se houvesse peixe suficiente e tivesse forças ainda gostava de ter um lugar de venda.




No tempo da venda no mercado de Torres Novas

O que é que gostava que as Entidades responsáveis pelo Tejo, fizessem por ele?

Gostava que não houvesse tanta poluição no Tejo. Há alturas em que não se pode colocar as redes. Um dia destes tive que estar a tirar alguns quilos de lixo que se agarrou às redes e que era proveniente de descargas.
Também era bom se limpassem as caneiras e os salgueiros que estão no meio do Tejo.

Mais algumas fotografias da sua actividade piscatória.










Agradecimento especial a Lurdes Couto, nora da entrevistada, pela sua inteira disponibilidade na recolha fotográfica e colaboração.



No barco, conduzida pelas remadas da sogra.

Dedico este trabalho à minha avó Leonilde Santos "Passarita", que durante 40 anos foi peixeira no mercado da Chamusca.


Comentários:

Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "FILHOS DO TEJO - MARIA VICÊNCIA GRILO": 

Carlos
Mais uma vez consegues traduzir nas tuas palavras toda a riqueza da alma Avieira.
Tens o poder de tornar bela a mais simples frase. O teu talento é qualquer coisa imponente!
Tenho imenso orgulho em fazer parte desta gente "Ciganos do Tejo" que tanta lição de vida me transmitiram e ensinaram.
Quem escuta as suas histórias de vida, apaixona-se pelo Tejo e as suas águas tornam-se ondas de sonho e pura magia.
Não esquecendo ninguém desta nobre e humilde gente, desde o meu tio Jaime, aos saberes que a minha sogra me tem transmitido, quero perpetuar a lembrança dum HOMEM que desbravou o Tejo como ninguém e que me fez sentir que sou no coração UMA AVIEIRA, o meu sogro!
BEM HAJAS!
Da amiga Lurdes Couto e família

NOTA: Devo realçar o orgulho que a minha sogra sentiu, por haver pessoas como tu que dão valor à vida dos avieiros: a sua vida!!! 





AFM deixou um novo comentário na sua mensagem "FILHOS DO TEJO - MARIA VICÊNCIA GRILO": 

Estimado Carlos,

É com comoção que leio as suas palavras; traduzem a excelência do seu trabalho e são o retrato desta Chamusca adorada.
Ver assim retratada a vida da minha família paterna faz-me viajar pelo tempo que ficou lá atrás, numa viagem não tão longínqua como a de regressar a 1930, mas já longínqua. Lembro-me de ouvir a minha avó apregoar a qualidade do peixe que vendia no mercado de Torres Novas ou do melão que vendia em Alpiarça. Ainda me recordo de ver o meu avô construir o último barco que fez nos telheiros onde hoje o meu pai tem as videiras. Os meus avós palmilharam a terra e navegaram o rio com sacrifício e com a ambição própria de quem quer brindar as gerações vindouras uma vida melhor. Cumpriram essa ambição.Costumo dizer que a minha família andou descalça para que hoje tenha eu que calçar. Orgulho-me dessas origens, que são minhas, pobres, humildes e ricas de vida, exemplo e coragem. Obrigada por ter captado na perfeição toda a sua essência.
Andreia Lurdes Casimiro Fernandes

Jose Passos deixou um novo comentário na sua mensagem "FILHOS DO TEJO - MARIA VICÊNCIA GRILO":

Parabéns companheiro! E obrigado! É bom recordar a nossa terra e a nossa gente!

Zé Manel Passas

Eduardo Martinho




Qualificaria a entrevista com a D. Maria Vicência como um testemunho muito comovente! O que não é pouco...
É um orgulho pertencer a esta galeria de gente humilde, mas honrada e nobre.
As palavras de elogio ao seu trabalho começam a escassear, mas eu diria que poucas iniciativas poderiam fazer tanto pela identidade colectiva das pessoas da nossa região.   

Luis Imaginario deixou um novo comentário na sua mensagem "FILHOS DO TEJO - MARIA VICÊNCIA GRILO":

Ó Carlos, mais uma vez consegues transmitir com palavras simples, mas de tal maneira, que parece que estamos a viver o presente, quando estás a fazer uma história de vida do passado até hoje. A recordação que estás a perpetuar, toca-me muito fundo, não só pela Dª Maria, mas também pela família Grilo e pela sua descendência da parte do Couto Casimiro, com quem cresci e convivi muito de perto.
Ao ler esta história de vida, recordo-me ainda hoje quando em miúdo ia ao domingo à pesca ao Tejo com o meu pai, ele também me atava com uma corda à cintura agarrada ao barco, não fosse o diabo tecê-las, portanto ó Quim, não fostes só tu que andaste atado com uma corda ao barco, o Luís do Custódio também andou.
Resta-me desejar não mais 83 anos de vida, mas ainda alguns mais de boa saúde.



Luis Filipe ImaginarioMais um belíssimo trabalho, força CARLOS !!!
Muito bom dia,
Que grande história de vida e que prazer teriamos em convidar esta linda senhora para o nosso programa! Acha que ela aceitaria? Para falarmos melhor, precisávamos que nos indicasse um número de contacto seu e da Dona Maria Vicência. Ficamos a aguardar estes contactos, mas estamos mesmo muito interessados em fazer uma reportagem com esta senhora e trazê-la a estúdio, para uma entrevista com a nossa Fátima Lopes.
Um abraço
Liliana Pacheco
Redação 'A Tarde é Sua'

  • Jorge Silva Santos Parabéns Carlos, está aqui a prova que o teu trabalho no blog está a ser reconhecido. Abraço





                 
        
João José Bento comentou uma ligação que partilhaste.
João José escreveu: "Quem trabalha pelos valores culturais e tradicionais da sua terra
 e por amor à camisola e às suas gentes, merece ver reconhecido o seu trabalho pelos
órgãos de comunicação social nacionais. Parabéns !!! Carlos Oliveira. Por isso deixo o
convite, estejam atentos `TVI hoje no programa da tarde."

Luis Filipe Imaginario comentou uma ligação que partilhaste.
Luis Filipe escreveu: "Carlos, não é para agradecer, isto é uma questão de
 reconhecimento e dar valor a quem faz algo pela nossa terra, que são uma
espécie em extinção, tu pela escrita outros de outras formas que não são
reconhecidas e a maior parte das vezes só depois de desaparecerem, tem
que se dar valor ás pessoas em vida, um grande abraço Bom natal e um ano 2014,
 pelo menos igual a 2013.

Setembro deixou um novo comentário na sua mensagem "FILHOS DO TEJO
 - MARIA VICÊNCIA GRILO
": 

Parabéns Carlos muito bom trabalho. Obrigada e aproveito para te desejar tudo de
 bom. Bom Natal e Feliz Ano Novo. Um abraço




Foi uma agradável surpresa. Não conhecia este bom trabalho.
Uma Boa prenda de anos para a minha mãe, sim porque eu sou o Jaime a que ela se refere.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

FILHOS DO TEJO - JAIME FERNANDES GRILO

FILHOS DO TEJO (primeira entrevista)


JAIME FERNANDES GRILO, nasceu em 08/01/1933, no Patacão de Baixo, concelho de Alpiarça, tendo vindo residir para a Chamusca em 1940, com 8 anos de idade.
Descendente de pescadores da Praia da Vieira, que imigraram da realidade salgada do mar para o imaginado leito doce do Tejo, para tentarem escamar o corpo pobre, incerto e fugidio do futuro. Aqui se acolheu em menino no berço do barco, embalado pela correnteza do rio e escutando o som das redes cortando o vento no lance para as águas profundas, trazendo à tona o coração dos peixes, para encher de vida e alegria o peito dos homens.
Viveu em palhotas e em barracas na borda d’água, sempre com os olhos mergulhados no rio e a alma cheia do Tejo.
Com apenas 8 anos de idade, sentindo correr no sangue o Tejo de várias gerações, tornou-se pescador. Pescava de dia e de noite com o pai, com a vontade firme de quem não brinca com a vida séria e responsável.
Foi à escola de fugida, porque o espírito das letras era mais leve que o peso da fome. Mas aprendeu com o Tejo todas as lições necessárias para se tornar um Homem digno.
Casou-se. Voltou a viver num barco e à proa do mesmo e com a mulher à ré lançaram as redes à vida.
Construiu a sua barraca com os proventos da pesca, mas quando o rio se tornou escasso de peixe procurou a terra e tornou-se igualmente agricultor. Conjugando as profissões de seareiro e pescador, conseguiu comprar a sua casa de tijolo e cimento mas com uma janela virada para o Tejo, para nele encher o olhar.
Protegeu e afastou os seus filhos do Tejo e pô-los a estudar, na perspectiva de lhes dar uma vida melhor, numa altura em que ele próprio, aos 33 anos, estudava e terminava a 4.ª classe.
Apesar da agricultura se ter tornado o seu principal sustento nunca abandonou a pesca, abraçando as duas actividades e mantendo a arte de construir barcos de madeira.
Aos 80 anos continua a pescar, apesar dos seus problemas de saúde, porque não consegue resistir ao apelo do Tejo e vai mantendo a esperança que um neto e dois sobrinhos hão-de continuar a labutar e a manter uma história de família com mais de 100 anos.
Este é, pois, um dos últimos filhos do Tejo no concelho da Chamusca. O sangue ainda vivo daqueles a quem deram o nome de avieiros.
Um exemplo de humildade, trabalho, dedicação, cultura e envolvimento do Tejo, no desenvolvimento da Chamusca e do Ribatejo.

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Como é que se deu esta ligação dos avieiros e da sua família com o Tejo?
Durante o período de maior intempérie no mar e de menos peixe, devido à necessidade de prover à sua subsistência, os pescadores da Praia da Vieira criaram o hábito de se deslocar para o Ribatejo e, durante os meses de Janeiro a Junho, fazerem a campanha da pesca ao sável no rio Tejo.
Os meus avós paternos e maternos e os meus pais faziam parte de um desses grupos e começaram a ter tanto gosto por esta região, que acabaram por aqui se fixar nos anos 20 do século XX, na zona do Patacão de Baixo, em Alpiarça, trazendo os seus conhecimentos e tradições a que hoje se chama a cultura Avieira.

Como era a vida destas famílias?
         A sua vida era praticamente feita no rio, trabalhando na pesca e vivendo dentro dos barcos que eram as suas casas e onde os casais chegaram a viver durante anos com os seus filhos, como aconteceu no caso da nossa família.
Os barcos, que se chamavam bateiras, tinham 6 a 7 metros de comprido e cerca de 1,10 metros de largura e eram compostos por 3 divisões: à proa situava-se o quarto dos pais e dos filhos, nas emparadeiras, a meio do barco, ficava a cozinha; a parte da ré era a oficina dos pescadores, onde se guardavam e preparavam as redes e os apetrechos da pesca.
Só algum tempo depois de nos fixarmos no Tejo começámos também a viver em terra, no interior de palhotas construídas com varolas de madeira e fechadas com telhados e paredes feitas de palha.
Alguns anos mais tarde, devido a uma melhoria de vida, começaram a construir-se barracas, que assentavam sobre estacas altas, que se chamavam palafitas, para que durante as enchentes do rio a água não entrasse nas casas.

Toda esta realidade de raízes tão profundas no Tejo e na sua família, só podiam fazer de si um pescador. Com que idade começou a dedicar-se à pesca?

 Primeiro gostaria de dizer que foi na Chamusca que iniciei a minha actividade de pescador.
Em Dezembro de 1940 os meus pais e os seus 5 filhos vieram para esta terra e fixaram-se no Porto do Carvão. Como aquela área sempre foi património da Câmara Municipal da Chamusca, através do pagamento de uma renda de 5 escudos por mês pelo aluguer do terreno, o meu pai foi o primeiro a construir ali uma barraca para albergar toda a família, que viria ainda a tornar-se mais numerosa com o nascimento de outros dois filhos,
E foi ali, daquele Porto, que aos 8 anos comecei a fazer-me ao Tejo e a ser companheiro de pesca do meu pai. Pescávamos noite e dia, sobretudo durante a noite, e só dormíamos por breves momentos na pausa da faina.
Tínhamos duas bateiras, uma maior e outra mais pequena, e andávamos na pesca durante todo o ano, pescando barbos, sável, saboga, fataças, bogas, carpas e lampreia.

Quando é que tinha tempo para ir à escola?

Não tinha tempo. Só fui à escola quando tinha 12 anos de idade e isso apenas aconteceu durante duas semanas, porque veio uma cheia e o meu pai foi pedir ao professor que deixasse que eu e o meu irmão Celestino faltássemos por uns dias, com a promessa que depois voltaríamos, pois precisava que fossemos ajudá-lo a trabalhar com a varina, que era uma rede de arrasto constituída por duas redes e um saco ao meio.
É claro que já não voltei à escola e só viria a ter novo contacto com as letras quando tinha 16 anos. Durante 6 meses andei a aprender no Manuel Barroso, que era um explicador que tinha um género de escola e onde aprendi a ler e a escrever algumas coisas, que me serviram para depois, quando andei na tropa, com mais algum tempo de estudos conseguir fazer a 3.ª classe.
Os anos passaram e só muito mais tarde, com 33 anos, por ter necessidade de tirar a carta de condução, para trabalhar na agricultura, retomei novamente a aprendizagem no mestre Manuel Barroso e me propus a exame, tirando a 4.ª classe no dia 17/04/1966. Nesse mesmo ano, em 20/07/1966, tirei a carta de condução.

Mas o menino que não ia à escola aprendia muito com a realidade do Tejo. Como era a vida no rio durante a sua juventude?
Na altura existiam na Vila da Chamusca três Portos: Porto das Mulheres, do Carvão e da Cortiça. No Pinheiro Grande também havia um porto. Para além dali estarem atracados e partirem para a faina os barcos dos pescadores, fazia-se um grande movimento de cargas e descargas doutras embarcações que transportavam carvão, lenha, cortiça, cal, vinho, sal e trigo. Tudo isto acontecia porque o Tejo era perfeitamente navegável e por isso era um meio muito utilizado na circulação de mercadorias.
Quanto à pesca, para além dos meus irmãos e dos meus pais, existiam outros avieiros no Porto das Mulheres. O Francisco Fernandes, o António Fernandes, o David Fernandes, o Joaquim da Silva e também a família Sequeira, o casal e os filhos Joaquim e José. Para além de muitas outras famílias a pescar ao longo do rio até Vila Franca de Xira.
Naquele tempo havia muito peixe no Tejo. Lembro-me, quando tinha 17 anos de idade, de termos feito um lance com a varina e pescado 225 sáveis. Era normal naquela altura em qualquer lance de rede trazer-se entre 50 a 80 peixes.
O peixe era tanto na zona de Salvaterra de Magos, onde pescávamos com frequência, que os golfinhos subiam o mar até ali e recordo com grande alegria a beleza dos seus saltos perseguindo os cardumes.

Entretanto tornou-se homem e teve que começar a pensar na sua independência e em criar a sua própria família. De que forma se desenrolou essa nova fase da sua vida?
Casei-me, com a minha prima Maria Lameira, também ela avieira, em 16/09/1956. Eu tinha 24 anos e ela 22.
Casar significou ter que sair de casa dos nossos pais e começarmos a lutar pela nossa própria vida.
Como a minha mulher é de Vale de Figueira ali casámos. A nossa lua-de-mel fez-se subindo o Tejo até à Chamusca, no barco que o meu pai me deu e que passou a ser a nossa casa e o nosso ganha-pão. Essa pequena embarcação foi a nossa residência durante 17 meses e ali trabalhámos com as redes que nós próprios construímos. Quando chovia ou fazia muito frio cobríamos o barco com um toldo para nos protegermos.
Naquele tempo só os mais velhos é que tinham casas, os mais novos viviam dentro dos barcos.
Passados aqueles 17 meses a viver no barco, já com algumas posses consegui construir uma barraca no Porto do Carvão onde viria a nascer a minha filha Ermelinda e onde já havia uma casa da minha irmã Maria Vicência e outra do meu pai.
Isto só foi possível com muito trabalho na pesca por parte dos dois. A minha mulher sempre pescou comigo. Ela à proa e eu à ré. E também com mais esforço e trabalho em terra para nos deslocarmos e tentar vender o peixe nos mercados da Chamusca, de Alpiarça, do Entroncamento e em Salvaterra de Magos quando íamos pescar para aquela zona. 

Apesar dessa dedicação ao rio e empenho na pesca, foi em terra e na agricultura que a vossa vida progrediu. Como é que se transformou num agricultor?

Aos 16 ou 17 anos já tinha ceifado trigo e trabalhado com uma debulhadora. Como a pesca estava muito ruim, pois começou a faltar o sável, aos 28 anos arrendei umas terras na Quinta da Lagoalva e comecei a fazer searas de campanha de tomate no Verão, vivendo durante o resto do ano da pesca.
          A agricultura tornou-se muito importante na minha vida, devido à facilidade de entrega do tomate nas fábricas da Compal no Entroncamento e posteriormente em Almeirim quando a fábrica para ali se mudou; na SIC, na Azinhaga; na Unital, nos Riachos e na Spalil, na Chamusca.
Nessa altura, a meio dos anos 60, a pesca já era secundária, porque com a construção da Barragem de Castelo de Bode o sável já não podia desovar devido à retenção das águas que tornavam o leito baixo, ou das fortes descargas que arrastavam as ovas e alteravam o seu habitat.
Se não fosse o trabalho do campo não teria conseguido, em 1968, comprar o terreno e podido construir a minha casa de tijolo e cimento. Aqui, a curta distância do rio, não só para ficar perto do Porto do Carvão, como para poder ter o Tejo sempre no olhar.

Foi por sentir essa falta de futuro na pesca que os seus filhos nunca seguiram a vida de pescadores?

Pelo quanto é difícil a vida de pescador, a escassez do peixe e o pouco dinheiro que se fazia, nunca quis que os meus filhos se entregassem à pesca e ao Tejo e meti-os a estudar.
 A minha filha nem sequer sabe remar e o Jorge, o meu filho, só vai ao rio de vez em quando.

Com a mulher e o filho Jorge, no dia da entrevista.

Para além da pesca e da agricultura também foi construtor de barcos!?
Sim, construí vários barcos. Alguns foram feitos para o meu uso e outros foram-me encomendados por particulares. Nunca aprendi carpintaria ou trabalhei como carpinteiro, mas sei construir barcos em madeira. Construí-os praticamente só usando como ferramentas uma enxó, uma plaina, uma serra, martelo e pregos. A formação foi passada de pais para filhos. Desde menino que ajudava o meu pai a construir barcos e foi vendo e ajudando que aprendi também a fazê-los.
Fotos durante o Processo de construção de um barco.




Trabalhando com o sobrinho Joaquim José Grilo Fernandes






Com uma idade já tão avançada, porque é que ainda continua a pescar?

         Continuo a pescar por necessidade, mas também para ajudar outras pessoas da família, como o meu neto Rui que pescou este ano comigo, de Fevereiro a Abril, na pesca da lampreia. É este peixe que ainda vai dando algum dinheiro, porque tenho um cliente que me compra tudo o que pesco.
       Tirando este período da lampreia, já só vou à pesca praticamente uma vez por mês, porque como já disse há muita escassez de peixe. Já não se encontra praticamente sável no Tejo e a fataça, as bogas as carpas e os barbos também são poucos.

Um dia de Pesca com a sua mulher










No seu entender a que se deve esta situação de escassez de peixe?

Em meu entender o peixe tem desaparecido devido ao lúcio, um peixe que foi introduzido no Tejo e que se alimenta das outras espécies, mas sobretudo devido aos corvos marinhos que se tornaram uma praga, mas são uma espécie protegida, e às descargas que trazem os poluentes matando alguns peixes e afastando outros.

O que é que sente por ser provavelmente o último pescador na história da sua família?

Tenho pena que a tradição da pesca possa acabar na minha família, mas também acredito e estou confiante que isso possa não vir a suceder porque estou a tentar puxar para o Tejo o meu neto Rui e também dois sobrinhos, o Joaquim José e o Fernando Chora, para que ele continuem este modo de vida.

Até quando é que vai continuar a pescar?

Vou pescar até poder, porque nasci no Tejo e foi nele que me fiz homem e comecei a ganhar o meu sustento. O rio faz parte da minha vida e não sou capaz de passar os meus dias só a olhar para ele, sem me meter à água.

Que mensagem final, relativamente ao Tejo, gostava de deixar?
Gostava de chamar a atenção das autoridades responsáveis pelo Tejo para cativarem funcionários descendentes de pescadores, devido à sua experiência, para fiscalizarem as pessoas que andam a praticar a pesca ilegal
E que, também, se esforçassem por tornar o Tejo mais navegável.




Dedico este trabalho à memória de todos os Avieiros e em especial a Américo dos Santos "Passarito", meu avô, um pescador encantado pela pesca da enguia e um peixeiro humilde e dedicado.

Agradecimentos:

A Armando Malaquias pelas fotografias, a da abertura desta página e de um dia de pesca e a Lurdes Couto pelas fotos do processo de construção de um barco.


Comentários no facebook e no blogue:


Maria João Almeida comentou uma ligação que partilhaste.
Maria João escreveu: "Espetacular, Carlos! Parabéns!"


Maria Fatima Lino comentou uma ligação que partilhaste.
Maria escreveu: "Parabéns Carlos Santos Oliveira pelos excelentes trabalhos de pesquisa."
Maria João Almeida
Maria João Almeida
Magnifico relato!

  • Carlos Bras-sandra Carapinha quem não se lembra deste senhor andar tejo a cima tejo abaixo a
     pescar a bela fataça eu lembro-me já la vai a alguns anos e se calhar ainda hoje continua .....
Eduardo Martinho



Gostei muito do que li e ouvi, que me fez recordar momentos da minha infância/juventude.

 Parabéns por mais este trabalho em favor da memória colectiva!



Jose Joaquim Braz comentou uma ligação que partilhaste.
Jose Joaquim escreveu: "As nossas raízes são a fonte de inspiração e de energia que nos anima e alimenta o espírito. O tejo, que serpenteia na lezíria, foi a fonte de alimento dos avieiros, o berço de gerações de homens e mulheres cheios de garra e de fibra, lutadores contra as adversidades da vida, ao longo de décadas de labuta e de sofrimento. O tejo é a grande artéria que desce das terras de Espanha e abastece com o sangue a seiva os campos do Ribatejo. Irmanados entre a campina e as águas rebeldes do tejo, os camponeses e os pescadores, ciganos do rio como lhes chamou Redol, foram desenvolvendo laços fraternos que deram origem a famílias, como as nossas, que resistiram a intempéries no tejo e à rudeza dos trabalhos agrícolas nos gélidos invernos ou nos tórridos verões, que requeimavam a tez morena destas humildes gentes. É por isso que tenho um orgulho imenso de descender deste povo que une os migrantes da Vieira e os camponeses do Ribatejo. Gente boa, trabalhadora, honesta, de uma têmpera de antes quebrar que torcer, com uma coluna vertebral tesa, que não verga nem se submete aos poderes instituídos. É de homens e mulheres como estes que hoje estamos a precisar para dar avolta a isto. O nosso país está mesmo a precisar dos filhos do tejo e da campina. Abraço amigo Carlos. Que a inspiração não te falte, porque talento tens a rodos...Bem hajas. Um grande abraço. JB"

Quarta-feira, 27 de Novembro de 2013



Um filho do Tejo

O chamusquense Carlos Santos Oliveira publica regularmente no seu blogue "Corações da Chamusca" interessantes posts com entrevistas que dão a conhecer pessoas que de outro modo passariam sem registo que fizesse perdurar a sua memória. E seria pena. Desta vez, traz até nós a vida de um filho do Tejo, pescador e agricultor, um homem que tem muito para contar. Vale a pena escutá-lo.
Eduardo Martinho

Acabo de "publicitar" a entrevista no meu blogue:


Luisa Amaral comentou uma ligação que partilhaste.
Luisa escreveu: "Obrigada Carlos por divulgares as nossas gentes, terras e costumes do nosso país que muita 
gente não valoriza mas que é magnifico."



João José Bento comentou uma ligação que partilhaste.
João José escreveu: "O escritor Alves Redol definiu de maneira fantástica a vida dos avieiros no rio Tejo durante muitos anos e quando já resta muito pouco da cultura avieira, também um poeta e escritor chamusquense, transporta para os CORAÇÕES DA CHAMUSCA, o que resta dos avieiros no concelho da Chamusca, toda a vivência dos filhos do Tejo, que numa primeira entrevista recolheu a história real de Jaime Grilo e família no berço do rio, que vale a pena ver, ler e compartilhar pedaços da história chamusquense. Deixo apenas mais um recado, nem só de homens se viveu a cultura avieira, as mulheres também a viveram e vivem intensamente. Estejam atentos porque vem aí mais um testemunho historico com uma mulher avieira. Deixo os meus Parabéns ao Jaime Fernandes Grilo, por nos ter deixado para a história pedaços da sua vida. Ao Carlos Oliveira, deixo aquele tributo de uma escrita perfeita e envolvente como nos transporta através dos tempos. Uma só palavra Excelente. Assina o sempre JJ."

Jorge Grilo deixou um novo comentário na sua mensagem
 "FILHOS DO TEJO - JAIME FERNANDES GRILO":

Carlos, trabalhaste o texto de modo muito expressivo, apreciei muito, 
agradeço-te todo o teu trabalho. Desejo que continues a fazer da tua arte 
da escrita uma valorização de outras pessoas e de interesses comuns
 que todos temos .

Uma história real, linda para sempre recordar
graças a alguém com grande coração
que valor e vida lhe soube dar
Obrigado! das minhas origens só me devo orgulhar.
Parabéns! este registo é digno de se divulgar.