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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

VIVA O AMOR!




Porto das Mulheres, maio de 2013
     
         Em fevereiro de 2013 publiquei a primeira entrevista, ao saudoso Vítor Cegonho, neste blogue que criei e a que dei o nome de “CORAÇÕES DA CHAMUSCA”.
       Em trinta de maio de 2013 publiquei um texto neste mesmo blogue com o título “CHAMUSCA, UM CORAÇÃO DO RIBATEJO”.
       Em 2017, fico deveras sensibilizado pelo facto do CORAÇÃO ser assumidamente o símbolo da Chamusca e pulsar no peito deste Concelho.
       Afinal a dedicação, a criatividade e a emotividade que pus no meu trabalho e que realçou as qualidades Humanas da nossa Gente, não foi em vão e teve o devido reconhecimento.
Sinto-me muito grato e quero agradecer da forma mais simples e sentida: VIVA O AMOR!
        

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

AURELINA RUFINO, UMA LIÇÃO DE SENSIBILIDADE


Aurelina Maria Garrido Conde Andrade Rufino, nasceu em 03/12/1949, na freguesia da Chamusca.
Foi uma criança alegre, que cresceu num meio familiar muito afectivo. Uma menina responsável, trabalhadora, comunicativa e sempre disponível para cuidar e ajudar.
Aluna “média”, frequentou o ensino primário sem dificuldades e concluiu o liceu aos 15 anos. Idade em que teve que optar por um curso que lhe garantisse um futuro profissional. Sem quaisquer dúvidas escolheu o Magistério Primário, porque a sua grande vocação era ser professora e ensinar.
Com apenas 17 anos de idade começou a dar aulas, dando início a uma carreira que se prolongou por 35 anos. Ensinou várias gerações de crianças, jovens e adultos. Centenas de alunos que aprenderam com ela a preparar-se para a vida e com muitos dos quais mantém relações de amizade e proximidade afectiva.
Mulher social e culturalmente activa, colaborou com os Bombeiros Voluntários da Chamusca, dos quais o seu marido era Comandante, participou e foi coautora de programas na Rádio Bonfim, fez parte da direcção do Jornal da Chamusca onde era, simultaneamente, redactora e jornalista.
Pessoa de fortes convicções, muito interessada e empenhada na vida do seu concelho, viria a abraçar a política autárquica. Vinte e três anos depois, quer como vereadora, quer como Presidente da Junta de Freguesia da Chamusca, cargo que exerceu durante três mandatos, não é possível ignorar a sua intervenção, tantas são as marcas que permanecem.
Como me referiu não pretender candidatar-se a mais nenhum acto eleitoral, e com a isenção que sempre caracterizou este blogue, entendo ser este o momento de a enaltecer como um exemplo de dedicação e trabalho e uma referência do concelho da Chamusca.
Portanto, como seu aluno, amigo e conterrâneo, é com muita honra que partilho com o mundo a dignificante vida desta Mulher.

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Como é que decorreram os primeiros anos da sua infância?

As primeiras recordações que tenho da minha infância remontam aos meus 5 anos. Sou filha única e os meus pais eram pessoas com alguns bens, fruto de muito trabalho, mas nunca senti que fosse uma criança superprotegida. Em casa era educada e prevenida para os perigos que poderia encontrar, nomeadamente atravessar a EN 118, para ir brincar com as minhas amigas do Bairro Paio de Pele. Mas tinha uma vida livre, com certa autonomia, e brincar no Largo e nos quintais com os meninos e meninas da vizinhança era “o pão nosso de cada dia”. O pátio da nossa casa estava sempre cheio de crianças e na altura das cheias do rio Tejo era uma alegria andarmos de jangada na Rua da Formiga, mais propriamente na Travessa da Barca.
Sempre fui uma miúda "arrapazada" que gostava muito de montar em pêlo as éguas que pertenciam aos meus pais, bem como ir para a adega que tínhamos no quintal esmagar as uvas e provar o mosto, guiar a mula atrelada à carroça ou capear os bezerros pequeninos.

         Aos 5 anos de idade com um amigo do tio João Conde junto à Barragem de Castelo do Bode.

                      Com 7 anos de idade, o apelo do barco e do Tejo sempre tão próximos.

O dia a dia de qualquer criança é orientado e condicionado pela vida dos progenitores. Como é que se desenrolava a vida dos seus pais?

De uma forma perfeitamente normal. Eram pessoas do povo simples e afáveis. Eram pequenos agricultores que trabalhavam na agricultura e na pecuária Possuíam uma propriedade com foro, na qual moravam, onde eu nasci, cresci, casei, tive os filhos e onde resido e espero morrer. Tinham uma vacaria, nesta propriedade, onde criavam 13 vacas à manjedoura, que ordenhavam todos os dias a partir das 4 horas da manhã. Esse leite era distribuído pelas “leiteiras” e, às vezes, pela minha mãe, depois de ser analisado pela Dona Branca, num espaço da Câmara Municipal que ficava junto à escola dos rapazes, no Largo do Jardim da Botica. Era com esse leite que a minha mãe fazia o queijo e a manteiga.
Os meus pais também tinham ovelhas, uma carroça, uma mula e 3 éguas brancas. Para ajudar os meus pais trabalharam connosco o António Bexiga, o “Pegancho” e o Manuel José Neves “Cavaco”. Estes são os que me lembro, pois eram muito meus amigos. Os meus pais possuíam ainda duas propriedades no campo, nas quais trabalhavam de sol a sol, sobretudo o meu pai, uma vez que a minha mãe para além dos afazeres que já referi, ainda vendia no mercado da Chamusca os produtos agrícolas, tratava da lida da casa, fazia as refeições, cuidava de mim, da minha madrinha Aurelina, que estava entrevada, e do meu avô António Brás já com pouca mobilidade. Para além disso, fazia-me os vestidos e os casacos de malha. Naquele tempo para as mulheres o dia tinha, pelo menos, 48 horas. Lembro-me de, já rapariga, ter uma grande admiração pela minha mãe.

                   O seu pai António Conde Brás

               A sua mãe Rosária Fernandes Garrido Brás



Com o ex-empregado do seu pai e amigo desde a sua infância, Manuel José Neves "Cavaco".

Eram pessoas atenciosas e afectivas consigo?

Sim, muito. Para além da forma como lidavam comigo todos os dias, há momentos inesquecíveis que reflectem bem o quanto se empenhavam para me ajuda a crescer, acarinhar e fazer feliz, como os que vou referir.
Apesar de uma vida de tanto trabalho e tão ocupada a minha mãe praticamente todos os meses me fazia o “batizado das bonecas”. Como no meu quintal havia muitos pombos e borrachos ela cozinhava uma magnífica canja, fazendo também um pão-de-ló e umas taças de arroz doce para a festa ficar completa. Para mim, e para as outras meninas, esses eram dias de muita brincadeira e de alegria, onde nós tentávamos mesmo imitar a celebração de um batizado.  Alguém se vestia de padre, de sacristão, outras faziam de madrinha ou padrinho e as restantes de convidados.
Quando tinha 6 anos e já andava na escola, algumas vezes durante a noite acordava e via-me sozinha em casa. Como sabia que os meus pais estavam na vacaria levava o livro da 1.ª classe e sentava-me dentro da manjedoura e assim ficava quentinha. Então o meu pai, como eu já conhecia as letras, apesar da labuta do seu trabalho, ensinava-me a juntá-las e a formar palavras, tornando assim mais fácil a minha aprendizagem escolar. 

Aos 12 anos com a sua mãe. Mais do que uma imagem, um sentimento profundo de ternura.

Os seus pais, uma imagem de pessoas humildes, dedicadas e trabalhadoras.

Como é que decorreu essa sua integração e desenvolvimento como aluna na Escola Primária?

Decorreu sem muitas dificuldades. Aprendi mais facilmente a contar e a fazer contas do que a ler. Fui uma aluna média. Na 1.ª classe frequentei a Escola do Bairro Azul, depois da 2.ª à 4.ª e admissão ao liceu frequentei a Escola Conde Ferreira, que funcionava no edifício da actual Junta de Freguesia de Chamusca, tendo como professora a D. Maria José, esposa do professor Tomás. Dois dos quatro professores que durante dezenas de anos ensinaram e marcaram várias gerações de alunos na Vila da Chamusca.
Nesta fase aprendi e amadureci muito também com várias circunstâncias da vida.

                                   Na 1.ª classe aos 7 anos de idade, na Escola do Bairro Azul.

De que forma é que isso sucedeu?

Isso deveu-se ao gosto de aprender e, também, à minha vontade de ajudar, mesmo sendo uma criança. O meu avô dizia: “o trabalho de menino é pouco, mas quem não o aproveita é louco”.
Uma das primeiras lições aprendia-a numa noite em que o meu pai nos disse que ia haver uma cheia e que era preciso salvar alguns produtos agrícolas, por isso tínhamos que ir para o campo apanhar nabos, logo cedo. Eu nem sequer sabia como se fazia. Mas o meu pai pôs-me à vontade dizendo-me que era simples. Que os nabos que tivessem as cabeças grossas arrancavam-se e os outros ficavam na terra. Quando se deu o levantamento da cheia o meu pai encontrou um grande número de nabos soltos sobre a terra e contou-nos que não sabia a razão de tal ter sucedido. Então disse-lhe que isso se devia a mim, porque ele me tinha dito para arrancar os de cabeça grossa e eu assim fizera. Todos os outros que tinha arrancado voltara a espetá-los na terra, daí ficarem soltos. Foi um episódio caricato mas ele compreendeu que eu era uma criança, que me mostrara disponível para ajudar e tentara fazer o melhor.
Por outro lado, como todos os jovens, gostava de ter algumas coisas que os pais não compravam. Então combinei com o meu pai fazer a vindima, para ganhar algum dinheiro, e ele pagava-me exatamente o mesmo que às mulheres que contratava. Com esse dinheiro saía com a minha mãe e comprava algumas roupas e sapatos de que gostava Os meus pais não se importavam com o dinheiro que me tinham pago, pois voltava a casa. Era um bom negócio e as duas partes ficavam contentes.
Como também fui sempre uma rapariga empenhada e atenta à vida e ao meio que me rodeava, ajudei a minha mãe a cuidar da minha madrinha e do meu avô. Tanto um como o outro me ensinaram muito. Apreciava a sabedoria das pessoas que tinham saber da experiência feita de alegrias e de dores.


        O seu avô António Brás e a sua madrinha Aurelina, que era madrasta do seu pai e que gostava dele e ele dela como mãe e filho.

Com a morte dos dois e também dos meus avós maternos, “Manel” Garrido e Ana Fernandes Garrido e da minha avó paterna Emília Conde, quando ainda era criança, esse sofrimento da perda fez-me amadurecer mais rapidamente.


                         O avô materno Manuel Garrido.


                               A avó materna Ana Fernandes Garrido.

A minha avó Emília Conde foi a parteira da Chamusca durante décadas. Fazia o parto e ia a casa das parturientes para dar banho aos bebés, até lhes cair o que restava do cordão umbilical. Com ela também aprendi a ter mais sensibilidade para a afetividade e para a maternidade.


                                A sua avó Emília Conde

Entretanto concluiu o ensino primário e prosseguiu os seus estudos!?

Sim, esse era o objectivo. Eu pretendia continuar e os meus pais também o queriam. Por isso fiz o exame de admissão ao liceu, tendo sido aprovada, e passei a frequentá-lo. Dessa forma conclui o 1.º e 2.º ano de liceu (actuais 5.º e 6.º) no colégio que existia na Rua da Formiga, o 3.º e 4.º (actuais 7.º e 8.º) na Escola Conde Ferreira e o 5.º ano (actual 9.º ) no Colégio da Palmeira em frente da Igreja da Senhora das Dores.
Neste período não posso deixar de salientar o acompanhamento e partilha do meu pai neste percurso. Ele era um homem muito inteligente. Concluiu a 4.ª classe com distinção, obtendo 20 valores. O professor Barreto Mendes foi pedir ao meu avô que o deixasse ir estudar, mas ele era filho único, fazia falta para trabalhar, e não prosseguiu. Mas como gostava de saber sempre mais, estudou nos meus livros e nos da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian e sabia História de Portugal e Universal como poucos.
Depois deste ciclo escolar concluído chegou a hora de optar por um curso.


                                               Aos 13 anos no Colégio da Conde Ferreira.



                   Aos 14 anos no Colégio da Conde Ferreira, com os professores e os colegas de turma.


                                   Aos 15 anos na festa de finalistas com alguns colegas.

Foi difícil fazer essa opção?

Não. Optei pelo que sentia ser a minha vocação. Que certamente começou a despontar em mim quando tinha apenas 5 anos e me lembro de estar no meu quintal sentada num banquito entre os varais da carroça, que estava cheia de meninas, com uns papéis e uma vardasca na mão a fazer de professora delas, quando eu ainda nem sequer sabia ler. Pouco depois entraram os veterinários que iam vacinar as vacas e perguntaram a que é que estávamos a brincar e eu disse: “às professoras”. “E sabes ler? Lê o que tens na mão”. Resposta pronta: “isso agora é que está pior.”
Alguns anos depois ocorreu outra situação, essa sim muito mais marcante para mim. Quando estava na 3.ª classe da Escola Primária veio para a minha sala uma menina, filha de um engenheiro civil que estava a acompanhar as obras de construção das casas do Bairro 1.º de Maio. A aluna tinha vindo do Colégio Rainha Dona Leonor, em Lisboa, e estava um bocado atrasada na matéria relativamente a nós. A professora Maria José decidiu que, depois do fim da aula, e enquanto a “Menina” Aurora (contínua) fazia a limpeza da Escola, todos os dias uma aluna ficava responsável por ensinar a recém-chegada para que ela pudesse acompanhar-nos. Até que um dia a professora disse que passava ser somente eu a ensiná-la. E assim me entreguei à tarefa de a ensinar com toda a responsabilidade e dedicação. Levei esta função tão a sério que, depois da Escola fechar, comecei a trazer a menina para a minha casa, onde continuava com o meu papel de professora.

Ser professora era o seu único objectivo profissional?

Sem dúvida! Por isso fui inscrever-me para fazer as provas de admissão ao Magistério Primário, em Leiria. As provas eram muito exigentes, mas acabei por obter boas notas e entrar no curso não tendo ainda a idade mínima exigida (16 anos). Mas isto só foi possível depois de ter pedido autorização ao Ministério da Educação para o poder frequentar e o Senhor Ministro ter autorizado. O curso tinha a duração de dois anos e durante esse período tive que ficar a viver em Leiria num Lar das Freiras Dominicanas que era pago, bem assim como a frequência do Magistério. Foi uma época de muita exigência económica, por isso o meu pai trabalhava de sol a sol para eu poder estudar e andava calçado com umas botas rotas.

Fotografia dos alunos e professores da Escola do Magistério Primário de Leiria, do curso de 1967-1969.


Os alunos do Magistério Primário de Leiria com José Hermano Saraiva, Ministro da Educação.


No Magistério acompanhada pelos colegas do seu grupo de trabalho.

Terminado o curso qual foi o seu rumo profissional?

Terminei o curso em 24/05/1969 mas, como não tinha ainda 18 anos para poder dar aulas, tive que voltar a pedir uma nova autorização ao Ministério da Educação, desta vez para poder exercer a profissão de professora e o Senhor Ministro autorizou. Foi no tempo em que havia falta de professores.    
A minha primeira colocação, no ano lectivo de 1969/70, foi em Albergaria de Almoster, que fica no triângulo entre Santarém/Cartaxo/Rio Maior. Era a única professora da Escola e a minha primeira turma tinha cerca de 40 alunos, das quatro classes. Entre eles havia 5 alunos repetentes que tinham idades entre os 13 e os 15 anos.
Como não havia transporte para vir com frequência à Chamusca, fiquei a morar em Albergaria. Apesar da escola ter uma casa para a professora, esta ficava muito isolada e tive medo de lá residir, por isso comecei a procurar um quarto para alugar. Isso mostrou-se muito complicado uma vez que as pessoas achavam que não tinham condições para albergar uma professora. Noutros casos, como perceberam que eu namorava não queriam alugar. Finalmente consegui alojamento em casa do senhor Manuel Horta e da sua esposa Amélia Horta, que tinha sido professora lá durante quase toda a vida. Além disso eram pessoas com boa compreensão da vida e disse-lhes que o meu namorado, Manuel Rufino, ia daí a um mês para o Ultramar, mais propriamente para Cabinda.
Na despedida dos militares que partiam para Angola, no navio Vera Cruz. Nele ia o seu namorado Manuel Rufino. Na foto estão familiares próximos e a Aurelina, de cabelo comprido.

Só vinha uma vez por mês a casa, até que os meus alunos mais velhos me indicaram um caminho que atravessava uma vinha enorme e que desembocava próximo da paragem de autocarro, o que me permitiu percorrer a distância a pé de uma forma menos difícil e demorada. Como estes meus alunos iam levar-me e buscar-me ao autocarro, comecei a vir a casa mais vezes.

           A sua primeira turma, aos 17 anos de idade,  em Albergaria de Almoster.

Esta foi a sua primeira experiência como professora, mas qual foi o percurso ao longo da sua carreira?

Só permaneci em Albergaria de Almoster um ano lectivo. Voltei lá posteriormente algumas vezes para visitar o casal em casa dos quais vivi e rever alguns alunos. Mas o curioso é que passados tantos anos, o ano passado uma das alunas dessa turma, de nome Cristina, que nunca se esqueceu de mim, entrou em contacto comigo através do facebook. Conversámos e vamos tentar juntar-nos com os outros, para matar saudades.
No ano lectivo seguinte vim para a Chamusca onde dei aulas durante 3 anos. No ano lectivo de 1973/74 estive apenas 15 dias colocada no Semideiro, porque fui convidada para ir dar aulas à 5.ª classe na Carregueira. No ano seguinte fui colocada no Pinheiro Grande, onde estive apenas 1 ano, tendo retornado à Carregueira para leccionar a uma turma da 6.ª classe. Permaneci os restantes 28 anos da minha carreira na Carregueira, no Ensino Básico Mediatizado, EBM, vulgarmente conhecido como Telescola.
A Telescola da Carregueira marcou-me bastante como professora.

No primeiro ano em que deu aulas na Chamusca.

Com a turma  a que deu aulas durante o seu segundo ano na  Chamusca.

Porque razão considera a Telescola da Carregueira marcante no seu trajecto como professora?

A Telescola era um belíssimo ensino porque as crianças mesmo à distância, as que não se podiam deslocar, tinham a possibilidade de ter bons professores e serem motivadas através de pequenos filmes temáticos de cada disciplina. Mais tarde, com o aparecimento do vídeo e da televisão a cores a aprendizagem foi ainda melhor.
Na Carregueira tivemos sempre a preocupação de melhorar o ensino e irmo-nos adaptando às necessidades dos nossos alunos e das suas famílias. E, por isso, éramos considerados uma referência a nível da Educação Regional. O nosso Orientador Pedagógico, o Senhor Professor Virgílio, sempre apoiou as nossas ideias e visão de melhoria e, em Vila Nova de Gaia, sede da Teleescola transmitia o que estávamos a alterar e sempre foi aceite. Éramos considerados uma referência a nível da Educação deste tipo de ensino. Conseguimo-lo,  ocupando bem os tempos livres dos alunos e dando-lhes condições para se sentirem bem integrados, uma vez que recebíamos meninos não só da Carregueira, mas também do Pinheiro Grande, do Arripiado e da Chamusca. Conseguimos isso com muito trabalho e empenho e através da celebração de vários protocolos:
Com a EB 2, 3 da Chamusca para termos aulas de inglês, que eram dadas pela Dr.ª Fátima Silva.
Com a Sociedade Recreativa Victória para a prática de Educação Física, para que os alunos, no Inverno, pudessem praticar ginástica na sede daquela Associação e com a Junta de Freguesia da Carregueira para que, no verão, os alunos usassem o ringue desportivo.
Com o Centro de Dia da Carregueira, porque não fornecíamos refeições e havia alunos que viviam longe e não podiam deslocar-se a casa para almoçar e assim puderam passar a comer na escola as refeições fornecidas pelo Centro de Dia.
Para que isto fosse possível, contámos sempre com o apoio da Câmara Municipal que melhorou os espaços e os adaptou às novas exigências de funcionamento, para além de efectuar o pagamento às Entidades com quem tínhamos protocolos.




                                 Fotografias de turmas da Teleescola da Carregueira.

Foram 35 anos a dar aulas. Lembra-se de todos os seus alunos e do relacionamento que manteve com eles?

Lembro-me perfeitamente de todos os meus alunos, embora tenham sido muitos os que passaram pelas minhas mãos. Tive sempre um bom relacionamento com eles e as suas famílias. Foram sempre crianças muito afectivas. Senti-me sempre muito próxima delas e elas de mim. Aceitavam bem as repreensões e os que não as aceitavam tão bem hoje, quando me encontram, dizem-me que se arrependem de não me terem ouvido e estudado mais. A nossa relação foi sempre muito boa e continua a ser. Quando nos vemos nunca deixamos de nos cumprimentar e, muitas vezes, entram em contacto comigo através das redes sociais, enviando-me fotografias das famílias que constituíram.
O principal sentimento que retenho é que ensinei mas também aprendi muito com os meus alunos. Aprendi com eles que não basta chegar à sala de aula e ensinar a matéria. É preciso conhecer o aluno, a família, as suas alegrias e tristezas, o que pode fazer, receber e dar.
Por exemplo, um aluno que tive nunca levava os livros para casa. Deixava-os em cima da salamandra da sala e pegava-lhes, no outro dia, quando chegava à escola. Quando lhe perguntei porque o fazia respondeu-me que de manhã, antes das aulas, ia guardar as ovelhas e à tarde, depois das aulas, tinha que ajudar na horta. Depois disto, antes de exigir tentava perceber as razões.
Sei que contribui para a educação/formação das crianças do nosso Concelho, não por obrigação mas por devoção, porque ser professora era aquilo que gostava de fazer, entregando-me a essa tarefa de alma e coração.


   Uma carta sentida de reconhecimento e agradecimento.

Esta sua carreira profissional foi complementada quase desde o seu início pela sua nova vida familiar, quando se casou com o seu namorado de longos anos!?

De facto assim foi. Era professora na Carregueira quando, aos 23 anos, em 08/12/1973, me casei com o Manuel Rufino, meu marido há 43 anos. Mas para isso se tornar uma realidade ainda tivemos que contornar um problema. É que para nos podermos casar eu tive que pedir autorização ao Ministério da Educação, porque as professoras não tinham um grande ordenado e só podiam casar depois de se provar que o noivo ganhava pelo menos o mesmo que elas. A falta de condições económicas da família, segundo o entendimento da altura, punha em causa a estabilidade profissional, o equilíbrio emocional e a tranquilidade da professora na sala de aulas e até o próprio estatuto social que se pretendia que as professoras tivessem.
Felizmente que esta situação acabou por ser ultrapassada, mas um novo problema surgiu com o nascimento do nosso filho Rui. Ele nasceu em 25/09/1974 e a 28/09 fui à Direcção Escolar de Santarém, levando o meu filho ao colo, com um atestado passado pelo Senhor Dr. Loja, médico na Chamusca, porque o bebé não queria pegar na chucha, nem no biberão. Só mamava. Fui pedir para ficar um mês em casa (não havia licença de maternidade) para poder cuidar dele, tentando que bebesse pelo biberão. A verdade é que não aceitaram o meu pedido, tendo dito que não era possível porque havia uma turma de quase 30 crianças que não tinham professora e precisavam de mim.
Custou-me esta resposta, mas tive de aceitá-la e resolver o problema da melhor maneira possível.


                   Aos 20 anos durante o namoro.

           Foto do dia do seu casamento com Manuel Rufino.

Primeiro ano em que deu aulas na Carregueira (turma da 5.ª classe), já grávida do seu filho Rui.

Como é que resolveu o problema?

Tirava o leite à bomba e deixava-o num biberão para a minha mãe lho dar à colher. E quando o meu marido podia ir ao Pinheiro Grande, levava-mo à Escola para eu lhe dar mama.
Foram momentos muito difíceis, que demonstram o quão bom foi passar a haver licença de maternidade.
Depois com a minha filha Rute, que nasceu em 08/07/1976, tudo foi diferente e foi-me foi concedida uma licença de maternidade de 2 meses.

                             Na Escola do Pinheiro Grande, 6 dias após o seu filho ter nascido.
                                   Na Telescola da Carregueira, grávida da Ruth.

                                  Com os seus filhos, Rui e Ruth.

De que forma é que se reflectiu na sua vida o facto de, poucos anos após o casamento, o seu marido ter assumido o cargo de Comandante dos Bombeiros Voluntários da Chamusca?

         Quando, em 1977, o meu marido passou a ocupar o cargo de Comandante, após 2 anos como membro da Direcção, isso trouxe-me também uma maior participação em termos comunitários. Como não havia ninguém no Quartel durante a noite e por vezes também durante o dia, porque tinham saído em serviço, as chamadas estavam reencaminhadas para a nossa casa. Quando o meu marido não estava era eu que atendia e saía, a qualquer hora, para ir chamar o Francisco Laranjinha ou o Manuel João Nalha, que eram os bombeiros que moravam mais perto de mim, para eles irem fazer qualquer serviço urgente. Quando não conseguia contactar com estes procurava outros que pudessem acudir às situações. Antes de mim também a D. Elvira Brogueira tinha feito de “socorrista”, quando o seu marido o senhor Júlio era o Comandante. Hoje estas situações já não se colocam, porque há sempre pessoas no Quartel e existem outros meios de comunicação.
Por outro lado, como o meu marido estava a tempo inteiro nos Bombeiros, sobretudo na altura dos fogos, é natural que tenha havido para mim uma sobrecarga no cuidar e educar os nossos filhos e na gestão da vida familiar, o que foi compreensível. 


Elvira Brogueira, poetisa, mulher do Comandante Júlio Conceição, dedicada amiga e colaboradora da Corporação, baptizando uma nova ambulância dos Bombeiros Voluntários da Chamusca.


Com o seu marido Manuel Rufino, Manuel José Nalha, Eurico Monteiro, André Saramago e João Saramago, em Tomar.


Na comemoração dos 66 anos do seu marido Manuel Rufino, simultâneamente a festa da sua despedida como comandante dos Bombeiros Voluntários da Chamusca.


Essa sua disposição para participar e colaborar levou-a a envolver-se noutras actividades?

Nunca gostei de estar parada. Foi por essa razão que me envolvi, ao longo dos anos, em outras actividades, nomeadamente na implementação e concretização dum desejo do Reverendo Padre Diogo que disse, publicamente, que gostaria que na Chamusca  se fizesse uma Procissão à Nossa Senhora das Dores. A Procissão fez-se durante vários anos com a colaboração das costureiras, dos escoteiros, das crianças, dos jovens, dos homens e das mulheres que compunham os “Quadros” de cada uma das Sete Dores. 

                           Um dos cortejos da procissão.

Também estive envolvida em actividades na rádio. Juntamente com o Horácio Ruivo, a Isabel Ruivo, o João Saramago, o José Brás e o António Fialho tivemos durante um ano um programa na Rádio Bonfim com o título “Palavras Vivas”, onde fazíamos entrevistas a figuras públicas locais e nacionais.
No ano seguinte com esta mesma equipa criámos o programa “Caleidoscópio”, cada semana o programa era assegurado por dois de nós e alternadamente por outros dois nas semanas seguintes. Este programa debruçava-se sobre literatura.
Algum tempo depois, como dava aulas a adultos no Semideiro e igualmente na Chamusca, no Edifício Custódio Mira, fui convidada pelo professor Martinho Branco, Coordenador do Ensino de Adultos na Chamusca, para participar no programa “Palavras e Música”, tendo recebido dois diplomas de mérito e agradecimento pela minha  colaboração.

               Um desses diplomas de "Mérito e Agradecimento".

Estive também ligada à comunicação social, pertencendo durante vários anos à Direcção do Jornal da Chamusca, onde conjuntamente com Elisete Carrinho, José Brás, Horácio Ruivo, Áppio Cláudio entre outros (peço desculpa aos que não mencionei), escrevíamos para o jornal de forma voluntária e gratuita, fazendo entrevistas e recolhas de notícias e actividades das freguesias. 


O seu cartão do Serviço de Imprensa, como repórter do Jornal da Chamusca.

Nessa Direcção estava o Gonçalo Cabaço, que também ali trabalhava voluntariamente, que foi o meu grande incentivador para entrar na política activa. Ele dizia-me; “gostas de política, de actividade social, de participar, porque é que não entras para a política seja porque partido for!?”.
Fui igualmente muito influenciada politicamente pelo facto de que quando fui estudar o 10º, 11º e 12º, em horário nocturno, para a Escola EB, 2, 3/S da Chamusca, ter tido uma disciplina de iniciação à política e a minha turma ser muito heterogénea, ter muita gente de várias vertentes políticas e as aulas serem debates acesos, onde discutíamos amplamente as questões políticas.

E foi por esses motivos que sentiu que deveria envolver-se na política autárquica?

Sempre tive as minhas convicções e sentia que tinha algum perfil para a política. Já antes tinha sido convidada por algumas forças políticas, mas não aceitei porque tinha os filhos pequenos.
Mas foram sobretudo estes incentivos que levaram à decisão de me envolver politicamente na vida do meu concelho, depois do aval de quase toda a família. Só o meu pai não gostou da ideia.
Quando fui convidada para ser candidata como cabeça de lista pelo PSD à presidência da Câmara Municipal da Chamusca em 1993, não hesitei e concorri tendo com o objectivo principal a renovação urgente do nosso concelho.


                    O folheto de apresentação da candidatura.

Perdeu essas eleições à Presidência da Câmara, bem assim como as de 1997 e 2013. Essas situações marcaram-na negativamente?

Não. De forma alguma. Perdi por 3 vezes eleições à Presidência da Câmara Municipal da Chamusca mas não estou nada arrependida de ter concorrido. Se tivesse que voltar atrás faria tudo da mesma maneira. 

        Durante a campanha paras as Eleições Autárquicas 2013.

Com Luís Marques Mendes na apresentação da sua candidatura às Eleições Autárquicas 2013.


Mesmo tendo perdido foi muito importante a minha intervenção nos assuntos do concelho e aprendi muito relativamente à vida autárquica e fiz bons amigos de outras áreas políticas como o Inácio Salgado, Emídio Cegonho, José Melão, Joaquim Emídio, António José Moreira, Artur Jacinto e outros. Não referi o Presidente Sérgio Carrinho porque somos amigos desde os 10 anos de idade.


No Edifício da Junta de Freguesia com Emídio Cegonho, Inácio Salgado, Victor Hugo, entre outros.


Durante uma exposição da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias), ladeada por Sérgio Carrinho e Artur Jacinto.

As diferenças de opinião não obstavam a que fossemos amigos. Os assuntos eram analisados e debatidos pelos sete vereadores, no primeiro mandato, ou pelos cinco no segundo mandato, com verdadeira lealdade institucional, Dou-lhe um exemplo: a Ascensão na Chamusca tinha só a componente pagã. Quando propus à Câmara que se juntasse a componente religiosa com a Benção do Homem, dos Animais e dos Bens da Terra, não foi muito bem aceite por alguns Vereadores, mas a maioria achou sim e, desde essa altura, até hoje, de várias maneiras e estilos, continuamos a ter esta componente indispensável à Ascensão.




A fazer uma leitura na missa da Benção do Homem, dos Animais e dos Bens da Terra, com o padre Diogo no altar improvisado.


Na visita a um dos pavilhões na inauguração dos festejos de uma Semana da Ascensão.

A Apanha da Espiga, com todo o seu simbolismo, a tourada, os fados, os bailes, os piqueniques e muitas outras acções formam um “ramalhete” que nos enche de orgulho e alegria e nas quais eu participo porque sempre gostei de me divertir.


       Durante a apanha da espiga na lezíria da Chamusca.

E apesar de nunca ter tido um pelouro atribuído, devido sobretudo ao facto de estar a trabalhar como professora, durante o período de 1993 a 2001, como vereadora, trabalhei sempre em grupos de trabalho com partidos de todas as áreas políticas. Mantive assim uma forte ligação com a Câmara e também com a população. Já tinha, nessa altura, um gabinete na Autarquia onde atendia as pessoas relativamente a situações de acção social e educação. Penso que foi esta minha disponibilidade para tentar resolver os problemas das pessoas e o reconhecimento desse meu empenho por parte delas que levou a que as minhas candidaturas à Presidência da Junta de Freguesia fossem bem aceites. Venci as eleições de 2001, 2005 e 2009. A minha primeira eleição pôs fim a 25 anos de vitórias da CDU, o que mostra bem que os votos vieram de todos os quadrantes políticos e de todas as pessoas que reconheceram o meu trabalho.




O actual Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa também reconheceu o seu empenho, manifestado neste cartão. 

Cavaco Silva durante uma visita ao Quartel dos Bombeiros Voluntários da Chamusca, em 1995(levando em mãos o projecto do IC3 para a Chamusca). Na fotografia está também outro político Chamusquense, José Frederico Salter Cid, Secretário de Estado da Segurança Social.

             O ex-Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho.

São algumas das Figuras políticas nacionais que também estiveram presentes no seu relacionamento político.

Que motivações a levaram a candidatar-se à Presidência da Junta de Freguesia de Chamusca?

A principal motivação adveio de sentir, no final do segundo mandato como vereadora, que era necessária na Junta de Freguesia da Chamusca, por ser o Órgão mais próximo das pessoas que me abordavam e falavam comigo na rua ou que vinham a minha casa, como ainda acontece, para exporem assuntos da freguesia que lhes diziam respeito ou que eram sua preocupação.
E foi com este sentimento de urgente necessidade de servir e estar mais próxima, que concorri às eleições realizadas em 2001 e fui eleita. 


                    O folheto de apresentação da candidatura.

O que é que gostaria de realçar, que tenha concretizado durante o seu primeiro mandato?

Deste primeiro mandato gostaria de realçar que contei com a colaboração de uma pessoa muito competente e empenhada na resolução dos problemas. A tesoureira da Junta e minha amiga, a Senhora Dona Nani, sempre pronta a ajudar a resolver problemas e muito, muito envolvida na vida autárquica.


Maria Manuel Carvalho Figueira Salter Cid (Dona Nani), numa cerimónia de entrega de medalhas, atribuindo-a ao Bombeiro João Godinho, acompanhada pela poetisa Maria Manuel Cid e pelo empresário César Castelão.

Realço ainda que ao assumir o cargo verifiquei que a Junta necessitava de uma carrinha. Era a única freguesia do Concelho, à exceção do Pinheiro Grande,  que não possuía um meio de transporte próprio, pelo que nos candidatámos à Central de Compras do Estado. Embora a minha proposta não tenha sido votada favoravelmente pela Assembleia de Freguesia, voltei a insistir e a levar àquele Órgão a mesma proposta que viria a ser aprovada.
Verificámos também que todo o trabalho no OTL de verão com as crianças e depois com os seniores, era uma situação que tinha que ter outro enquadramento e havia necessidade de ter outro tratamento, pelo que comecámos a trabalhar nesse sentido.
Como não há só coisas boas, a vida é feita dumas e doutras, realço a enorme tragédia que o nosso Concelho sofreu com os fogos de 2003. A dois de Agosto de 2003, uma catástrofe natural, uma trovoada seca, provocou a morte, a destruição e a desolação. Não havia possibilidade dos Bombeiros socorrerem tudo e todos. Então surgiu o Grupo de Jovens que, no Bairro 1.º de Maio, foram autênticos heróis. Por toda a parte, vizinhos, amigos e desconhecidos entreajudavam-se na ânsia de salvar vidas e bens.



Enquanto Presidente da Junta e em coordenação com o senhor Presidente da Câmara, ajudei a receber, a encaminhar, a acarinhar e alentar os que, por motivos de precaução, estavam a ser transportados de outras freguesias para o salão dos Bombeiros. Eram quase todas pessoas de idade que, se necessário, teriam que ter cama para dormir e refeições para tomar, o que foi tratado com a Santa Casa da Misericórdia que, prontamente, disponibilizou o Edifício de S. Francisco.
Em Santo Antoninho tínhamos casas a arder e os moradores tiveram que ser retirados. A Capela do Senhor do Bonfim e a Capela do Cemitério estavam ameaçadas e cercadas pelo fogo, Arderam os tetos e os telhados das duas, tendo no entanto sido possível retirar os bens mais preciosos de uma e de outra que foram, depois, entregues aos responsáveis de cada uma.



Surgiu uma enorme onda de solidariedade. Todos queriam ajudar trazendo roupas e muitos outros bens. Não havia espaço para guardar, separar e entregar tudo o que nos chegava. Pediu-se ao senhor Dr. João Duque que nos cedesse um armazém, no que é hoje a Horta das Freiras, e foi-nos emprestado.
As pessoas desalojadas, quando as novas casas ficaram prontas, foram viver para o Leme e outras regressaram às suas casas recuperadas.


Na Chamusca, com o Ministro da Administração Interna, António Figueiredo Lopes e a Secretária de Estado da Segurança Social, Teresa Caeiro, durante a entrega das novas casas aos desalojados.

E dos mandatos seguintes de 2005 e 2009, o que é que lhe merece realce?

Realço a candidatura da Junta ao Banco Alimentar. Com a sua aprovação passámos a ir mensalmente a Santarém buscar os alimentos para as famílias que inscrevendo-se e reunindo as condições para os receber, iam levantá-los à Junta.
No início do Banco Alimentar na Chamusca, havia um mecenas do concelho que oferecia mensalmente, em dinheiro, o equivalente a 600 litros de leite. Eu própria doava os valores que tinha a receber como Presidente da Junta ao Banco Alimentar.
Realço igualmente a criação da Loja Solidária para apoiar as famílias de todo o Concelho, que por indicação das assistentes sociais da Câmara e de outras Instituições verificavam as debilidades económicas e encaminhavam as pessoas para nós. A primeira localização desta Loja situou-se em frente à Branca de Neve, num espaço cedido pelo Dr. Luís Santos e as suas irmãs.


                      Durante a inauguração da Loja Solidária.

E, sobretudo, apraz-me realçar a criação da JuntAnima. 



Sentimos que era necessário que os nossos seniores da freguesia fossem mais acompanhados e que saíssem de casa convivendo entre si e com outras pessoas, nomeadamente com os mais novos, pelo que era necessário um espaço que nós não tínhamos. Procurámos encontrar esse espaço, adquiri-lo, transformá-lo e torná-lo mais adequado às funções que se pretendia desenvolver, um Junta animada. Para conseguirmos concretizar esse sonho candidatámo-nos ao Programa da Charneca Ribatejana e fomos contemplados. A Câmara apoiou-nos com os materiais de alvenaria e vendemos dois terrenos que nos pertenciam, mas que não tinham qualquer utilização. Com estes passos evitámos contrair um empréstimo que teríamos que pagar durante 25 anos, tendo pago as prestações em 5 anos e sem juros, uma vez que os proprietários percebendo a importância do espaço para a população sénior acederam a esta venda. Comprámos mobiliário para as salas, quadro interativo e computadores. Não foi fácil, pois tínhamos que pagar primeiro e só recebíamos o dinheiro depois, pelo que só com a compreensão e apoio da Câmara Municipal, conseguimos atingir o nosso objetivo.
  Inserida no Grupo Musical da JuntAnima, bem afinados por José Pinhal e João Sá.

                                       
Vídeo
   Integrando o Grupo Musical da JuntAnima interpretando o tema "Chamusca Linda Vila Portuguesa". Música e letra de José Pinhal. 

Com o voluntariado do José Pinhal, João Sá, Maria Emília Vacas , Carlos Petisca, professor Valdemar, Vera Vinagre, Mónica Galinha, Filipa Ferreira e Bruno Guilherme, entre outros, tornou-se possível não só a convivência entre os utilizadores, como desenvolver várias actividades naquele espaço, como a criação de um grupo musical, para além de se terem proporcionado outras dinâmicas, com as saídas para o exterior, com passeios, visitas a museus, idas à televisão, a ginástica no salão dos Bombeiros Voluntários, a frequência da piscina uma vez por semana, os almoços de convívio e a convivência com os Centros de Dia do Concelho.


         Durante a confecção de um almoço na JuntAnima.


          Durante um actividade em Oliveira de Azemeis.


     No decurso da acção "Envelhecimento Activo", no CNEMA, em Santarém.

Fazendo um breve balanço da sua actividade política, sente alguma mágoa pelas derrotas e que tenha tido mais percas do que ganhos?

A política para mim foi sempre uma actividade voluntária. Nunca ganhei qualquer dinheiro com ela. Considero que recebi sempre mais do que dei. Porque trabalhar para o bem comum é a melhor recompensa que podemos ter. E foi esta razão que me levou a candidatar-me para a Câmara Municipal e para a Junta de Freguesia. Fazer uma política séria e dedicada ao serviço das pessoas é a melhor maneira da chegar às populações e servi-las.
Não tenho nenhuma razão de mágoa para com os habitantes do nosso Concelho, por não me terem elegido para a Presidência da Câmara. Como as eleições a que concorri à Junta de Freguesia da Chamusca, e as eleições de 2013 à Câmara Municipal o demonstraram, a população da Vila da Chamusca conhece-me e ao meu trabalho, pelo que votou maioritariamente em mim. Claro que não olharam aos partidos, pelo que isto só foi possível recebendo votos de todas as áreas políticas.


Com Henrique André e Nazaré Ramos, no almoço da sua despedida com Presidente da Junta. Exibindo a salva de prata que lhe foi oferecida.



Pensa voltar a candidatar-se nas próximas eleições autárquicas?

Embora eu nunca diga nunca, neste momento a minha perspectiva é a de não voltar a candidatar-me.

Vai reservar agora o seu tempo para a vida familiar e afectiva?

Como já referi, no início desta entrevista dediquei algum tempo da minha infância a cuidar do meu avô paterno e da minha madrinha e recebi alguns ensinamentos e sensibilidade da minha avó Emília Conde que foi parteira na Chamusca durante décadas. Talvez por isso, certamente não por genética, fui sempre uma pessoa de afetos. Abraçava e beijava toda a gente, como continuo a fazer. Pela vida fora a minha família, as minhas colegas e amigas e os seus filhos e filhas mereceram toda a minha atenção e afetos e passei a ter algumas filhas e netos de “coração”. Porque como tive sempre uma grande tristeza de ser filha única, alarguei assim a família incluindo nela todos os que podia abraçar.
Portanto, irei simplesmente continuar a ser o que sempre fui; uma pessoa de muitos afetos.

                              As netas


                                Marta


                                          Madalena


                              Rita

                     
          Filhos, marido, nora, "filhas" , "netas" e "netos" de coração.


"Pi"

André Fernandes

                                                                  André João


                                                                  Artur Rodrigues

No final desta entrevista, que mensagem gostaria de deixar para as pessoas do nosso Concelho e também para todos os que nos visitam e leem em todos os Continentes?


Para as pessoas do meu Concelho digo que, pelo muito que amamos a nossa Terra e o nosso Concelho, temos obrigação de lutar por ele, por nós, pelos nossos filhos e netos, contribuindo de forma construtiva com a nossa voz, razão e inteligência, pois temos de acreditar em nós, nas nossas capacidades e ter esperança no presente e no futuro.
Para os que nos visitam e leem em todos os Continentes, digo-lhes que visitem a Minha Terra, não só a Chamusca, mas todo o Concelho.
Encontrarão gente hospitaleira, boa gastronomia, igrejas e capelas lindas, belas paisagens de lindos montes e vales, com o Rio Tejo a seus pés, “intimismo” na Charneca e alegria folgazã na Lezíria.
A todos digo:
Bem hajam!
Cá os esperamos.






Um agradecimento especial a João José Bento pela sua infatigável recolha e pesquisa fotográfica. Meu companheiro neste gesto sentido de respeito pela nossa Terra e pelas nossas Gentes, através deste blogue. Nesta partilha voluntária da vida daqueles que contribuíram para a construção de um Concelho mais  Digno.