VÍTOR MANUEL CASTELÃO MOEDAS PRAIA, nasceu na Chamusca em 11/03/1947, na freguesia e concelho da Chamusca.
Aos 16 anos sentiu uma paixão irresistível pelo acordeão e
descobriu que tinha uma sensibilidade especial para aprender música só de
ouvido.
Autodidacta, tal facto não impediu que tivesse ensinado a
tocar alguns excelentes músicos deste país.
Tocou a solo, formou grupos musicais, foi um dos criadores
do hino do Grupo de Forcados Amadores da Chamusca, fez parte do elenco musical
de várias peças de revista e actuou em inúmeros espectáculos em Portugal e no
estrangeiro.
No folclore, pode dizer-se que é uma figura incontornável
desta tradição musical. Foram vários os ranchos folclóricos dos quais fez parte
no Distrito de Santarém e inúmeros os festivais em que participou.
Actualmente dedica-se quase exclusivamente ao acompanhamento
musical de fadistas, fundindo a sensibilidade do acordeão com o sentimento do
fado.
O seu enorme talento, a emoção que lhe vibra na alma quando
toca e uma carreira de mais de 40 anos de aplausos fazem deste Homem, sem
dúvida, um dos excelentes acordeonistas de Portugal.
Quando começou esta paixão pela
acordeão?
Aos 16 anos tinha como vizinho António Pereira Durão, um acordeonista profissional, que tocava em festas,
bailes e casamentos. Como ele ensaiava em casa, a sua música começou a mexer
comigo, senti-me como que atraído e tive que ir à sua casa. Quando ele me viu
convidou-me a assistir e fiquei definitivamente encantado pelo som e pela
beleza do próprio acordeão. Depois o acordeonista perguntou-me se queria
aprender e foi assim que durante cerca de seis meses ele me andou a ensinar
solfejo. Desde logo mostrei que tinha muita facilidade em apanhar as notas só
por ouvido e tudo parecia correr bem com a minha aprendizagem só que, com muita pena minha, o meu professor partiu com um circo para Espanha e nunca mais
voltou, tendo terminando assim as minhas lições.
Mas aquela atracção pelo acordeão continuou a marcá-lo?
É verdade. Sentia necessidade de
ter um acordeão e continuar a aprender, mas o instrumento era muito caro e não
o podia comprar. Até que um dia, no lugar de Balsas, freguesia de Ulme,
descobri que havia uma pessoa que tinha um acordeão velho à venda por um conto
de réis. Naquele tempo e para mim era uma pequena fortuna, mas fui incapaz de
resistir e comprei-o. Aos 19 anos voltei a ter a oportunidade de aprender.
Passava muitas horas a aprender, por ouvido, escutando as músicas da rádio e
através do método Anzaghi, que é um livro criado para o ensino do
acordeão.
1968 - Chamusca - tocando com o seu primeiro acordeão entre amigos.
Esses ensaios não duraram muito, pois aos 21 anos foi chamado para o serviço militar no Ultramar. O sonho de ser músico podia ter terminado aí?
De facto podia, mas eu não deixei
para trás aquilo que era mais importante para mim na altura: o acordeão. Levei-o para Moçambique, onde estive vinte cinco meses, e aí, no tempo
livre, aprendi a tocar cerca de umas vinte músicas, sempre de ouvido, e todas as
noites animava a caserna.
1969 - foto tirada a bordo do paquete "Império" a caminho de Moçambique
1969 - Em Nambude, Moçambique
1969 - Em Nambude, Moçambique - festa na caserna
Quando regressa de África e
certamente por já ter um reportório razoável, praticamente não o deixam pôr o
pé em terra e logo o convidam para ir tocar numa festa. Como é que isso
sucedeu?
A minha mãe ia dando notícias
minhas às pessoas que perguntavam por mim, na Chamusca, e por ela iam sabendo
que me entretinha a tocar acordeão. De tal modo as pessoas levaram essas
informações a sério, que cheguei no dia 09/06/1971 e no dia 12/06/1971 fui
convidado para ir tocar numa festa das fogueiras na Lagarteira. Foi o meu
primeiro espectáculo e tudo correu tão bem, que nunca mais deixei de ser
contratado para actuar nos mais diversos espectáculos. Se bem que tenha mantido também a minha actividade no
ramo da construção civil.
Antes disso ainda actuei só com
um baterista, o José Luís Cardador Malaquias. Mais tarde, em 1976, formei o
Vítor Moedas + 2, com o já referido José Luís e o Adriano Cruz, que ainda
sofreria uma modificação com a saída do José e a entrada do Adriano Chora. Em
finais dos anos setenta mudei o nome do grupo para “Sadeom”, por onde passaram
vários músicos que hoje são, inclusivamente, referências musicais a nível nacional.
Isto só foi possível porque a minha casa, a determinada altura, era uma
autêntica escola de música de onde saíam os músicos que vinham depois a compor
a banda.
1981 - Grupo Musical Sadeom
1984 - Festas de Nisa - Parte do cartaz que destaca que no dia 3 de Agosto, o Conjunto Sadeom actuou no mesmo palco que a grande vedeta da altura, Marco Paulo.
1984 - Festas de Nisa - Parte do cartaz que destaca que no dia 3 de Agosto, o Conjunto Sadeom actuou no mesmo palco que a grande vedeta da altura, Marco Paulo.
Mas sendo um autodidacta, que nem
sabia ler correctamente uma pauta, como é que podia ensinar música?
Com a experiência que já tinha
não era difícil dar os tons, porque tive sempre facilidade em executar qualquer tom para que me acompanhassem. Depois como éramos todos
muito bons a apanhar música de ouvido as coisas avançavam. Metíamos uma cassete
no gravador com os sucessos do momento e a ouvir conseguíamos acertar com as
notas e o compasso das músicas.
Pelos vistos isso funcionou muito bem, não só consigo, mas também com muitos dos que passaram por aquela “escola”. Pode indicar-me alguns nomes dos seus “alunos”?
Para além do José Luís Cardador Malaquias, que já
anteriormente indiquei, posso ainda mencionar o Adriano Chora,
o Mário de Oliveira, o Helder Vieira, o Luís Albuquerque, o Manuel José Mocego Cegonho, o Sílvio Tomás, o Custódio Vinagre e o Joaquim Silva Vinagre, mais conhecido por “Pirata”.
E em plano de
maior destaque posso ainda referenciar o Francisco Velez e o Luís Petisca que
são actualmente professores de música. Qualquer um deles com participações
importantes no meio musical nacional, no qual o Luís Petisca é um dos maiores
guitarristas da actualidade.
Por lá passou também o João Chora que hoje faz,
sobretudo, carreira de fadista, mas que também é um bom executante de guitarra clássica de acompanhamento (viola).
Paralelamente ao trabalho desenvolvido a solo e com a sua
banda musical, começam a surgir-lhe inúmeros convites para tocar em ranchos
folclóricos. Como é que se desenvolveu essa actividade e em que grupos actuou?
Convém dizer que eu tinha uma agenda de espectáculos
muito preenchida. De tal forma que me podia considerar um semi-profissional da
música, por essa razão tive que dizer que não a muitos convites. De entre
esses o que me deixou mais pena foi não ter podido corresponder ao pedido do Comendador Celestino Graça para fazer parte do Grupo Académico de Danças Ribatejanas.
Apesar disso foram inúmeros os ranchos folclóricos em
que colaborei. Entrei no folclore a convite dessa excelente pessoa e grande chamusquense, Nazaré Santos, no rancho folclórico de Santa Maria do Pinheiro
Grande, cuja tocata era ainda constituída por dois grandes músicos, mestre
Julião Marques e António Arrenega e ainda por Joaquim Salvador. Mais tarde dela
fez também parte o João Chora.
Fiz ainda parte dos seguintes ranchos folclóricos: do
Centro Cultural da Chamusca, da Golegã, da Carregueira, de Vale de Cavalos, de
Alpiarça, de Frade de Baixo (Alpiarça), de Vila Nova do Coito (Santarém), da Póvoa da Isenta (Santarém), de
Alcanhões (Santarém) e de “Os Ceifeiros” de Liteiros (Torres Novas).
Rancho Folclórico de Santa Maria do Pinheiro Grande, onde, na primeira fila, se podem ver o padre Diogo, Mestre Julião Marques, Vítor Moedas, Nazaré Santos e Joaquim Salvador.
1992 - Rancho Folclórico de Frade de Baixo, Alpiarça.
Festival Nacional de Folclore - Algarve 1996 - com o Rancho Folclórico da Golegã
Fandanguistas de Alpiarça - 2006
Pode-se dizer que com o folclore, a sua expressão
musical ganhou uma outra dimensão a nível nacional e internacional?
De certo modo isso é verdade, pois tive a
oportunidade de participar em imensos espectáculos em Portugal e no
estrangeiro, mas como eu sou um acordeonista que sempre gostou de aprender e
tocar trechos musicais mais difíceis de executar e que requerem mais trabalho e
dedicação, sempre pude, espontaneamente, improvisar e dar algo mais também à música. Tanto
assim foi, que quando fui com o rancho folclórico “Os Ceifeiros” de Liteiros à
Alemanha, na cidade de Magdeburgo, fui convidado para tocar na missa a
acompanhar o grupo coral da Igreja.
Com o Rancho Folclórico "Os Ceifeiros", de Liteiros, na Alemanha
Foi essa sua capacidade multifacetada a nível
musical, que lhe permitiu também tocar em várias peças e revistas realizadas na
Chamusca?
Sem dúvida que as minhas capacidades musicais me
permitiram tocar acordeão englobando-me em qualquer estilo e espectáculo
musical, mas também me mostrei sempre uma pessoa disponível, quando tal era
possível, para colaborar com os artistas da nossa Terra. Foi assim que
participei algumas vezes nos “Bate Papo”, na reposição das revistas “Na Cepa Torta” e “Salsifré” e em algumas outras, como "O meu Fado no teu Tango", "Melodias de Sempre" e "A Prata da Casa o Ouro do Ribatejo". Também devo lembrar que a música do hino dos Forcados Amadores da Chamusca foi criada por mim e pelo Manuel da Silva Santos, com um poema da poetisa Maria Manuel Cid, a madrinha do Grupo.
Actuando no espectáculo "Bate-Papo" em 1972.
14/04/1989, acompanhando Manuel da Silva Santos, no espectáculo "A Prata da Casa o Ouro do Ribatejo", no trecho "O Hino do Forcado" da autoria musical de ambos.
O Hino dos Forcados Amadores da Chamusca, autografado pelos Autores Musicais, Vítor Moedas e Manuel da Silva Santos.
Tocando o Hino
Depois de 40 anos a tocar e a viver intensamente a
música, resolveu abrandar um pouco o ritmo. Actualmente quais são os
espectáculos em que intervém?
Actualmente os espectáculos em que intervenho são
sobretudo os de fado, onde os fadistas são acompanhados com acordeão e
guitarras. Posso destacar o enorme leque de fadistas que tenho acompanhado em
restaurantes e casas de fado: Manuel João Ferreira, Silvina de Sá, João Chora,
Casimira Alves e Rui Tanoeiro a nível de artistas da Região e outros como Faustino Pereira, Liliana Jordão, Ana Fernandes, Joana Cota, Carlos
Rosa, Luís Filipe Fortunato, Tozé Nobre, Tina Jofre, Joaquim Júlio (humorista),
Dina Mendonça, Alcides Cepas, Elvira Rodão, Dora Maria, Teresa Tapadas, João Ferreira Rosa, António Pinto Basto e Francisco Sobral, que fazem parte de um grupo demasiado extenso para aqui enumerar todos.
Nestes espectáculos actuei com os músicos Joel Pina, José Luís Nobre e Costa, Custódio Castelo, Luís Petisca, Bruno Mira, Mário Maduro, Paulo Leitão, Joaquim Rocha, Rui Girão, Carlos Velez, Fernando Maia e muitos outros.
Com tantos nomes a música e os fadistas têm um campo
de actuação tão grande como parece?
No meu entender e pela experiência que tenho, de já
cá andar a tocar há muitos anos, o mercado hoje está mais parado. Há menos
espectáculos e ganha-se muito menos dinheiro. Apesar disso há novos
acordeonistas, guitarristas e fadistas, o que é uma garantia que o presente e o
futuro da música estão assegurados.
É certo que ainda vai fazer parte desse futuro
durante mais alguns anos, mas fazendo para já um balanço o que é que deixou por
fazer na música?
Sobretudo a concretização de um sonho: tirar um curso
superior de acordeão, o que não foi possível devido à minha falta de tempo e à distância do Instituto de Música Vitorino Matono, situado em Lisboa, e depois com a licenciatura poder fazer
parte de uma grande orquestra da Europa como acordeonista
Quanto ao resto, penso que tive e tenho uma carreira
linda e que contribui não só para formar artistas como para desenvolver a
música e o gosto pela mesma em Portugal e no estrangeiro. Por isso nesse
aspecto sinto-me completamente
realizado. Sou um autodidacta, é verdade, mas a música também aprendeu e ganhou
muito comigo.
Que mensagem gostaria de deixar para os músicos e
para as pessoas em geral?
Que trabalhem naquilo que gostem de fazer. Que tenham
muita paciência e esperança por melhores dias. Que tenham muito êxito.
Outras Fotos
20/08/1993 - Concerto junto ao Coreto da Chamusca.
Actuação na Semana da Ascensão 2004
Actuando com Bruno Mira, outro excelente músico da Chamusca
TRIBUTO
AO EXCELENTE ACORDEONISTA VICTOR MOEDAS
Hoje,
22/06/2013, na Biblioteca Municipal da Chamusca, tive o prazer de assistir ao
Tributo ao excelente acordeonista Victor Moedas. Uma comunhão de várias
gerações no público e na música criaram um momento raro de emoção e alegria.
Para além da história da sua vida, a
sensibilidade musical tocou bem no fundo de todos os presentes.
O dueto com o seu filho Bruno Praia, no
clarinete, fez da tarde um momento musical maravilhoso e inesquecível. Ao ver e
ouvir de novo os vídeos só posso dizer: estou EMOCIONADO!
A Solo
Duetos com o seu filho
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